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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Jobs sempre viveu como 'no último dia'.

Steve Jobs havia trocado telefones com a economista loira minutos antes, em uma palestra na Universidade Stanford, quando teve uma epifania ao deixar o local.

"Se fosse minha última noite na Terra, eu preferiria passá-la em uma reunião de negócios ou em um encontro com essa mulher?", disse ele em entrevista ao autor de "Steve Jobs - The Brilliant Mind Beyond Apple" (2009).

O episódio de 1990 é sobre sua mulher, Laurene Powell. No ano seguinte, os dois casariam em uma cerimônia budista e teriam um filho, Reed. Quatro anos depois viriam Erin e, em 1998, Eve.

Mas é também uma síntese de como Jobs funcionava: todos os dias eram o último.

Se há um ponto comum em suas entrevistas, aparições públicas e discursos, é a paixão e a determinação de que grandes coisas precisam ser feitas sem titubeio.

A inquietude é resultado de uma vida, como ele gostava de definir, pouco linear.

Jobs é o filho adotivo de um casal californiano sem educação superior. Quando nasceu, em 24 de fevereiro de 1955, a terapeuta Joanne Schieble e o professor de ciência política sírio Abdulfattah Jandali não eram casados e ainda estudavam.

"Ela achava que eu tinha de ser adotado por um casal com formação universitária", contou Jobs em seu agora famoso discurso de 2005 aos formandos em Stanford. Mas não foi assim, e o bebê acabou com Paul e Clara Jobs.

Também não seria assim com os planos de fazer faculdade. Jobs entrou no Reed College, uma instituição cara em Portland, no Oregon, aos 17 anos. Sua vida acadêmica oficial não durou seis meses.

Em dúvida, largou o curso. Por um ano e meio, frequentou como ouvinte as aulas que lhe interessavam, e só; dormiu no chão do quarto de amigos; comeu em um retiro Hare Krishna para economizar; recolheu garrafas para reembolsar o casco.

Guardou a lembrança das aulas de caligrafia, as quais dizia terem sido essenciais em seu apreço pelo design.

A inquietude não passava. De volta à Califórnia, decidiu fazer uma viagem espiritual à Índia. Experimentou LSD. Trabalhou na Atari. E reencontrou o amigo de escola Steve "Woz" Wozniak, um geninho da engenharia obcecado por eletrônicos.

APPLE

Seria com Woz, em 1976, que Jobs fundaria a Apple.

Os dois venderam uma calculadora HP e uma perua kombi para levantar a verba e produzir o Apple I e o Apple II em uma garagem.

"Ele tem essa reputação de ser um chefe duro, de ser áspero, mas comigo ele sempre foi bacana. Um grande amigo", disse um emocionado Woz em depoimento em vídeo à Associated Press.

A reputação "áspera" seria inflada nos anos seguintes.

São comuns histórias sobre Jobs humilhando funcionários, gritando com superiores ou estacionando na vaga de deficientes da Apple.

Parte da imagem de difícil vem também da delicada relação com a filha mais velha, Lisa, nascida em 1978. Sem admitir a paternidade do bebê, Jobs terminou o namoro com a mãe dela, Chris-Ann Brennan, e só assumiu a menina no meio dos anos 80.

Se hoje seu epíteto é de visionário, na primeira década da Apple ele nunca chegou a ser unanimidade. Suas ideias esbarravam na diretoria. Sua enorme confiança (que alguns veem como arrogância) se refletia em brigas constantes dentro e fora da firma.

Eram tempos em que Jobs usava gravata borboleta e começava a dar entrevistas na TV (em um vídeo com os bastidores da primeira delas, em 1978, ele diz que vai vomitar de nervoso --sem perder o domínio de cena).

Ganhou uma medalha do então presidente Ronald Reagan e namorou a cantora e compositora Joan Baez, ex de seu ídolo, Bob Dylan.

"A Apple saiu da garagem para virar uma empresa de US$ 2 bilhões com 4.000 funcionários, e eu tinha acabado de fazer 30 anos."

Mas em 1985, um ano após criar o Macintosh, saiu após desentender-se com o presidente da empresa, John Sculley, que ele contratara.

Nos 12 anos em que ficou fora da Apple, Jobs fundou a NeXT, que lançou dois modelos de computador pessoal e depois tornou-se uma desenvolvedora de software.

Também investiu em um pequeno estúdio de animação que se tornaria a Pixar, hoje um modelo na área.

Em 1997, porém, voltaria à casa que fundou.

"O único jeito de fazer um grande trabalho é amar o que você faz", explicaria aos aos formandos de 2005. "Se você não achou o que é, não se acomode. Você saberá quando achar. Continue procurando. Não se acomode."

Ele não se acomodaria, e nos anos seguintes viriam o iPod, o iPhone, o iPad.

Viria também o câncer no pâncreas, diagnosticado em 2004 como "raro".

No discurso de Stanford, ele falou sobre ser desenganado e festejou uma cirurgia recente como cura.

"Agora estou bem."

Não estava. Repetiria até o final, porém, que viver o "último dia" tantas vezes foi a melhor coisa que fez na vida.
Fonte: Folha de São Paulo

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