A poeira do minério de quartzito que sai das chaminés da ômega Mineração causa medo e pesadelos na estudante Fancieli Marina dos Santos, uma menina de 7 anos criada no Bairro Cascalho, no município de Santa Cruz de Minas, na Região Central do estado, a 200 quilômetros de Belo Horizonte.
Órfã de pai e mãe, Francieli viu seus familiares agonizarem até a morte. Os parentes da garota trabalhavam na mineradora e morreram sufocados pela falta de ar e com os pulmões enrijecidos pelo pó. O pai da estudante, Joaquim dos Santos, foi o último a morrer. Pesando pouco mais de 40 quilos e sem forças para andar, o trabalhador foi vencido pela doença em 31 de março de 2006, aos 50 anos. Três meses depois, o irmão mais novo de Joaquim, Geraldo de Mello, também foi morto pela doença, aos 48 anos, quando era conduzido em uma ambulância a um hospital. Os 15 anos de trabalhado na Ômega também foram fatal para João Bosco de Almeida, irmão mais velho de Geraldo e Joaquim e tio de Francieli. Afastado do trabalho pela Previdência em 2003 , João Bosco morreu em 25 de outubro de 2004. Depois da perda dos pais, Francieli e o irmão, Jefferson dos Santos, de 14, foram morar com a tia, Janete Aparecida Santos Rocha, uma das poucas pessoas da família que não foram atingidas pela doença. Além da companhia da tia, do irmão e dos primos, Francieli se apegou a um papagaio na tentativa de afastar a dor e os pesadelos causados pelo pó da mineradora.
"Com tanta morte na família, Francielli, por morar perto da mineradora, ainda tem de conviver com toda essa poeira. Então, não é de estranhar que ela tenha pesadelos", afirma a tia da estudante.
Histórias como essa passaram a fazer parte da rotina de Santa Cruz de Minas, município com 8 mil habitantes, perto das cidades históricas de São João del-Rei e Tiradentes. De acordo com as estatísticas da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança do Trabalho (Fundacentro), a silicose já matou 16 pessoas em Santa Cruz de Minas. A maioria das mortes ocorreu nos últimos quatro anos. O número de trabalhadores que contraíram a doença ainda não foi contabilizado
pela fundação, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, que, em 2006, selou um acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OIT) para fazer um diagnóstico da doença no estado. Embora a pesquisa ainda não tenha sido concluída, os pesquisadores da Fundacentro apontam Minas Gerais como o estado campeão absoluto de casos de silicose no país. Além de Santa Cruz de Minas, a Fundacentro detectou focos da doença nos municípios de Dores de Guanhães, Itaúna, Teófilo Otoni, Belo Horizonte, Corinto e São Tomé das Letras.
"No caso de Santa Cruz de Minas, a situação estava tão grave que tivemos, durante a fase de pesquisa, de chamar os fiscais do Ministério do Trabalho para interditar a mineradora" , afirma Marta de Freitas, chefe do escritório da Fundacentro em Minas. Segundo ela, ao fazer uma vistoria na empresa, os técnicos da Fundacentro detectaram que, apesar de estarem com silicose, vários funcionários continuavam trabalhando. Esses empregados haviam sido examinados antes por laboratórios da região, que os consideraram aptos para o trabalho. ''O número de mortos pode ser maior, pois os familiares escondem os atestados de óbito por medo de represálias'', contou Freitas. Ela explica que a interdição da mineradora foi cancelada depois que a Ômega se comprometeu a tomar medidas de segurança para evitar a silicose. Os fiscais se comprometeram a fazer nova auditoria na empresa, em abril, o que não ocorreu devido à greve
dos servidores do Ministério do Trabalho.
"Ainda não fomos lá porque não temos dinheiro nem mesmo para a gasolina", justificou ao Estado de Minas Mário Parreiras, chefe-substituto do setor de segurança do Ministério do Trabalho em Belo Horizonte.
A poeira que sai das chaminés da ômega Mineração está levando medo e revolta aos moradores de Santa Cruz de Minas e de São João del-Rei. O pânico toma conta, principalmente, dos bairros Pedreira e Girassol, em Santa Cruz de Minas, e Cohab, em São João del-Rei, que ficam nas proximidades da mineradora. Conduzida pelos fortes ventos que sopram na região, a poeira tem como destino as casas dos moradores. A vegetação da reserva da Serra de São José também está
totalmente coberta pela grande quantidade de pó.
"É impossível conviver com tanta poluição. Meu carro e minhas plantas vivem tomados pelo pó. Tenho medo de estar ingerindo uma poeira fatal", afirma o aposentado Aluísio Januzzi, de 66 anos, que mora em Santa Cruz de Minas, a poucos metros da mineradora. Segundo ele, depois ter sido interditada em dezembro do ano passado, a empresa passou a ligar as chaminés somente durante a noite. "Estão querendo enganar os moradores e os fiscais", afirma Marta Januzzi, de
63, mulher de Aluísio, enquanto mostra um pé de couve em sua horta totalmente coberto pela poeira. Apesar dos transtornos, a família Januzzi, a exemplo da maioria dos moradores do município, é contra o fechamento ou a interdição da mineradora.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e do Mobiliário de São João del-Rei, Valdeci Geraldo da Silva, parte dos moradores do município defende a manutenção da mineradora devido à falta de emprego na região. Ele conta que, depois da interdição, um grupo de funcionários da ômega chegou a organizar um movimento pela reabertura da empresa.
"Ameaçados de demissão, parte dos trabalhadores acabou se voltando contra nosso sindicato, que não tem nada a ver com a mineração. Está apenas apoiando as vítimas e seus familiares, porque eles não têm a quem recorrer. Não há lugar nem mesmo para se reunir", afirma Valdeci. De acordo com o sindicalista, a mineradora, que se dedica à produção de seringas de injeção e outros materiais elaborados com areia fina, durante mais de 40 anos esteve sob o controle de
um grupo alemão. No ano passado, devido a grande passivo trabalhista, a empresa foi vendida a um grupo de empresários da região. Para a chefe da Fundacentro, Sandra de Freitas, o impacto da poeira da ômega sobre a população ainda está sendo analisado. "O que não dá para negar é que a poeira está poluindo toda a região. Isso dá para ver a olho nu", afirma Freitas.
Mas, embora os impactos da mineradora sobre as cidades vizinhas ainda estejam sob análise, moradores da região garantem que estão sendo afetados pelo pó que sai das chaminés. "Há dias que vem tanta poeira para dentro da minha casa que sinto falta de ar e não consigo nem respirar", diz Ângela Aparecida de Almeida, viúva do trabalhador João Bosco de Almeida, ex- funcionário da ômega, que morreu de silicose.
Órfã de pai e mãe, Francieli viu seus familiares agonizarem até a morte. Os parentes da garota trabalhavam na mineradora e morreram sufocados pela falta de ar e com os pulmões enrijecidos pelo pó. O pai da estudante, Joaquim dos Santos, foi o último a morrer. Pesando pouco mais de 40 quilos e sem forças para andar, o trabalhador foi vencido pela doença em 31 de março de 2006, aos 50 anos. Três meses depois, o irmão mais novo de Joaquim, Geraldo de Mello, também foi morto pela doença, aos 48 anos, quando era conduzido em uma ambulância a um hospital. Os 15 anos de trabalhado na Ômega também foram fatal para João Bosco de Almeida, irmão mais velho de Geraldo e Joaquim e tio de Francieli. Afastado do trabalho pela Previdência em 2003 , João Bosco morreu em 25 de outubro de 2004. Depois da perda dos pais, Francieli e o irmão, Jefferson dos Santos, de 14, foram morar com a tia, Janete Aparecida Santos Rocha, uma das poucas pessoas da família que não foram atingidas pela doença. Além da companhia da tia, do irmão e dos primos, Francieli se apegou a um papagaio na tentativa de afastar a dor e os pesadelos causados pelo pó da mineradora.
"Com tanta morte na família, Francielli, por morar perto da mineradora, ainda tem de conviver com toda essa poeira. Então, não é de estranhar que ela tenha pesadelos", afirma a tia da estudante.
Histórias como essa passaram a fazer parte da rotina de Santa Cruz de Minas, município com 8 mil habitantes, perto das cidades históricas de São João del-Rei e Tiradentes. De acordo com as estatísticas da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança do Trabalho (Fundacentro), a silicose já matou 16 pessoas em Santa Cruz de Minas. A maioria das mortes ocorreu nos últimos quatro anos. O número de trabalhadores que contraíram a doença ainda não foi contabilizado
pela fundação, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, que, em 2006, selou um acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OIT) para fazer um diagnóstico da doença no estado. Embora a pesquisa ainda não tenha sido concluída, os pesquisadores da Fundacentro apontam Minas Gerais como o estado campeão absoluto de casos de silicose no país. Além de Santa Cruz de Minas, a Fundacentro detectou focos da doença nos municípios de Dores de Guanhães, Itaúna, Teófilo Otoni, Belo Horizonte, Corinto e São Tomé das Letras.
"No caso de Santa Cruz de Minas, a situação estava tão grave que tivemos, durante a fase de pesquisa, de chamar os fiscais do Ministério do Trabalho para interditar a mineradora" , afirma Marta de Freitas, chefe do escritório da Fundacentro em Minas. Segundo ela, ao fazer uma vistoria na empresa, os técnicos da Fundacentro detectaram que, apesar de estarem com silicose, vários funcionários continuavam trabalhando. Esses empregados haviam sido examinados antes por laboratórios da região, que os consideraram aptos para o trabalho. ''O número de mortos pode ser maior, pois os familiares escondem os atestados de óbito por medo de represálias'', contou Freitas. Ela explica que a interdição da mineradora foi cancelada depois que a Ômega se comprometeu a tomar medidas de segurança para evitar a silicose. Os fiscais se comprometeram a fazer nova auditoria na empresa, em abril, o que não ocorreu devido à greve
dos servidores do Ministério do Trabalho.
"Ainda não fomos lá porque não temos dinheiro nem mesmo para a gasolina", justificou ao Estado de Minas Mário Parreiras, chefe-substituto do setor de segurança do Ministério do Trabalho em Belo Horizonte.
A poeira que sai das chaminés da ômega Mineração está levando medo e revolta aos moradores de Santa Cruz de Minas e de São João del-Rei. O pânico toma conta, principalmente, dos bairros Pedreira e Girassol, em Santa Cruz de Minas, e Cohab, em São João del-Rei, que ficam nas proximidades da mineradora. Conduzida pelos fortes ventos que sopram na região, a poeira tem como destino as casas dos moradores. A vegetação da reserva da Serra de São José também está
totalmente coberta pela grande quantidade de pó.
"É impossível conviver com tanta poluição. Meu carro e minhas plantas vivem tomados pelo pó. Tenho medo de estar ingerindo uma poeira fatal", afirma o aposentado Aluísio Januzzi, de 66 anos, que mora em Santa Cruz de Minas, a poucos metros da mineradora. Segundo ele, depois ter sido interditada em dezembro do ano passado, a empresa passou a ligar as chaminés somente durante a noite. "Estão querendo enganar os moradores e os fiscais", afirma Marta Januzzi, de
63, mulher de Aluísio, enquanto mostra um pé de couve em sua horta totalmente coberto pela poeira. Apesar dos transtornos, a família Januzzi, a exemplo da maioria dos moradores do município, é contra o fechamento ou a interdição da mineradora.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e do Mobiliário de São João del-Rei, Valdeci Geraldo da Silva, parte dos moradores do município defende a manutenção da mineradora devido à falta de emprego na região. Ele conta que, depois da interdição, um grupo de funcionários da ômega chegou a organizar um movimento pela reabertura da empresa.
"Ameaçados de demissão, parte dos trabalhadores acabou se voltando contra nosso sindicato, que não tem nada a ver com a mineração. Está apenas apoiando as vítimas e seus familiares, porque eles não têm a quem recorrer. Não há lugar nem mesmo para se reunir", afirma Valdeci. De acordo com o sindicalista, a mineradora, que se dedica à produção de seringas de injeção e outros materiais elaborados com areia fina, durante mais de 40 anos esteve sob o controle de
um grupo alemão. No ano passado, devido a grande passivo trabalhista, a empresa foi vendida a um grupo de empresários da região. Para a chefe da Fundacentro, Sandra de Freitas, o impacto da poeira da ômega sobre a população ainda está sendo analisado. "O que não dá para negar é que a poeira está poluindo toda a região. Isso dá para ver a olho nu", afirma Freitas.
Mas, embora os impactos da mineradora sobre as cidades vizinhas ainda estejam sob análise, moradores da região garantem que estão sendo afetados pelo pó que sai das chaminés. "Há dias que vem tanta poeira para dentro da minha casa que sinto falta de ar e não consigo nem respirar", diz Ângela Aparecida de Almeida, viúva do trabalhador João Bosco de Almeida, ex- funcionário da ômega, que morreu de silicose.
Fonte: UAI(MG)
Um comentário:
é! poluem na cara dura, mas os próprios familiares de quem morre não querem o fechamento ou a interdição! será que eles acham que a fábrica vai funcionar direito??? já morreram vários, muitos estão doentes e trabalhando...falta de escrúpulos dos empresários.
Tenho até medo de me formar e pegar uma empresa desse tipo para trabalhar! Como nós, tst, contestaremos coisas assim? se os próprios moradores temem represálias, imaginem quem tem o dever de cuidar da saúde do trabalhador!
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