O trabalho do sistema de vigilância de gripe brasileiro, que coleta secreções de pacientes para a identificação de novos vírus da doença, ainda tem de ser aperfeiçoado para melhor auxiliar na detecção de novos tipos de influenza. Somente 13 Estados do País atingiram 80% ou mais das metas de participação do sistema de vigilância em 2008, indicam dados de relatórios dos governos. Outros cinco Estados atingiram entre 50% e 80% das metas.
Cada unidade sentinela - atualmente todas as 27 Unidades da Federação dispõem de pelo menos uma - deve coletar um mínimo de cinco amostras semanais de secreções nasais de pessoas que apresentem os sintomas da doença e enviar a laboratórios de referência nacionais. Caso haja evidência de que o vírus é um influenza (o vírus da gripe) desconhecido, as amostras são enviadas para o Centro de Controle de Doenças dos EUA, que identifica o novo micro-organismo. O trabalho é crucial para o desenvolvimento da vacina contra a gripe comum anualmente, mas também muito importante para identificar novos vírus, como o da nova gripe suína - o País ainda não tem transmissão sustentável da doença.
No entanto, os dados referentes a novembro de 2008, colhidos pela pesquisadora Telma Carvalhanas, da secretaria estadual de São Paulo, apontavam que não havia homogeneidade na atuação dos Estados. O Amapá, por exemplo, sequer havia disponibilizado informações sobre pessoas com gripe atendidas. Outros ainda inseriam dados incorretos, como o Maranhão - por exemplo, de outras doenças que não a gripe. Parte tinha uma participação adequada na identificação de casos de gripe - a meta era atingir um mínimo de 80% do programado, o que foi alcançado por 13 unidades da federação: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Espírito Santo. Mas apenas SP, MS, RO e PE enviaram o número adequado de amostras.
"O número (de unidades) é pequeno, comparado com os EUA, mas não temos a atividade de influenza que o Hemisfério Norte tem, onde até 50% das pessoas no inverno têm gripe. Agora, no Estado de São Paulo, no Sul, como é frio no inverno, a rede até é maior", avalia a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo. Ela considera que a situação das unidades em São Paulo é boa. "O problema é que há alguns Estados em que há outros problemas, diarreia, dengue. Aí, porque são obrigados a enviar, enviam cinco resfriados quaisquer (e não casos de gripe)." Nancy destacou a importância do sistema. "Indiretamente, se houver um novo vírus, saberemos.
" Segundo João Toniolo Neto, geriatra da Unifesp, o sistema nacional tem funcionado bem para a fabricação das vacinas sazonais, mas terá de ser melhorado para vigiar novos vírus. Ele enfatiza que, além de eventuais problemas de infraestrutura, Estados do Norte têm circulação de vírus da doença diferente da registrada no Sul e Sudeste, o que ajuda a explicar os resultados. "Lá, a gripe ocorre no início do ano", diz o médico, que organizou as primeiras unidades sentinela. Procurado, o ministério não comentou.
Fonte: Estadão
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