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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Atividade de motoboys é marcada por pressa e risco de morte.

Na cidade de São Paulo, a atividade dos motoboys traduz parte da nova condição da cidade, onde o espaço, a circulação de mercadorias e de pessoas é tida como prioridade. "Eles também traduzem as transformações do mundo do trabalho, especialmente no caso brasileiro, devido a precarização do trabalho", explica o geógrafo Ricardo Barbosa da Silva.
Para o pesquisador, é necessário estudar a dinâmica dos motoboys a partir de dois ângulos: a nova condição da cidade no capitalismo contemporâneo e as transformações no mundo do trabalho. Segundo ele, a profissão de motoboy não é a única que representa a precarização do trabalho no País. "Trata-se de uma atividade que também permite a reflexão da ideia de informalidade, um ponto muito particular dessa profissão. É um trabalho que, a todo o momento, envolve situações de risco e a informalidade deixa os motoboys descobertos da maioria das leis trabalhistas", descreve.
Em seu estudo de mestrado dissertação Os motoboys no Globo da Morte: circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, orientado pela professora da FFLCH Amalia Inés Geraiges de Lemos, o geógrafo também mostra que, tal qual a atividade dos motoboys, a informalidade foi impulsionada entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990 dentro de um contexto chamado "reestruturação produtiva", no qual o Brasil teve que se adaptar às exigências das competições internacionais. Dentro dessa competitividade, grande parte dos trabalhadores da indústria ficaram desempregados e optaram por tentar novas oportunidades com a terceirização e o trabalho temporário.
Alternativa ao desemprego
Uma das possíveis causas observadas pelo pesquisador que levou trabalhadores a optarem pela atividade de motoboys foi esse processo de reestruturação produtiva, além do fato de o Brasil não ter um estado de bem-estar social. "O cidadão fica mais tempo desempregado do que o previsto pelo governo e o seguro-desemprego oferecido tem tempo limitado. Por isso, na década de 1990, muitos dos desempregados decidiram virar motoboys pela possibilidade de conseguir um emprego que pudesse ser passageiro e fosse uma alternativa para sustentar suas famílias", explica o pesquisador.

Em sua pesquisa, Silva dividiu os motoboys em duas gerações: a primeira é produto dos desempregos causados pela reestruturação produtiva e a segunda é a dos jovens que não conseguiram se inserir em uma atividade formal e viram a profissão de motoboy como uma oportunidade de trabalho. Uma característica comum às duas gerações é a lógica do acelerador, da pressa desmedida no espaço voltado às exigências da circulação, os riscos e perigos da profissão e a falta de oportunidades de crescer profissionalmente.

Oportunidades e riscos
Segundo o estudo, há um verdadeiro estoque em potencial de população jovem - entre 15 e 29 anos - com baixa qualificação e concentrada espacialmente nas periferias pobres da cidade de São Paulo para trabalhar como motoboys. Uma das explicações para esse dado pode ser a falta de oportunidades de empregos para grande parte dos jovens que residem na periferia. "A atividade dos motoboys pode ser relacionada ao fator econômico, pois as exigências mínimas para ser inserido na profissão são ter uma motocicleta e uma carteira de motorista. Na maioria das vezes não é pedido que a pessoa tenha experiência, já que muitas empresas querem exatamente o dinamismo dos jovens", ressalta.

Por meio de dados obtidos pelo pesquisador, a frota de motocicletas da cidade de São Paulo em 2008 contava com cerca de 659 mil veículos, atingindo quase 11% de toda a frota de automotores. Apesar da dificuldade em definir o número exato desses profissionais, acredita-se que haja somente na cidade de São Paulo, entre 200 e 250 mil motoboys.

A situação de risco dos motoboys na cidade de São Paulo tem seu reflexo no número de acidentes com vítimas por ano. Segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em 2007 houve 15 mil acidentes com vítimas e, nesse mesmo ano, foram registrados 466 óbitos com motocicletas. As marginais Tietê e Pinheiros lideram o ranking de rodovias da cidade nas quais mais ocorrem acidentes com motocicletas. Só no ano de 2006 ocorreram 789 acidentes com vítimas, sendo que 37 deles com mortes.
Fonte: Agência USP de Notícias

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