Um pequeno grupo de climatologistas, com o apoio financeiro de bilionários como Bill Gates, está fazendo lobby para que governos e órgãos internacionais apoiem experimentos para manipular o clima da Terra.
Os pesquisadores defendem métodos de geoengenharia (literalmente, “engenharia da Terra”), como borrifar a atmosfera com milhões de toneladas de partículas de dióxido de enxofre, capazes de barrar parte da luz do Sol e resfriar o planeta.
O argumento deles é que, com os riscos do aquecimento global e a dificuldade de reduzir a queima de combustíveis fósseis que o causa, é preciso um plano B se o mundo quiser evitar a mudança climática catastrófica.
É uma abordagem controversa. Outros cientistas e ambientalistas temem que, em vez de resolver o problema, a técnica acabe alterando padrões de chuva e causando mudanças climáticas ainda mais desagradáveis.
“Há muita coisa em jogo, e os cientistas que defendem a geoengenharia não são as melhores pessoas para lidar com as questões sociais e éticas que ela pode trazer à baila”, diz Doug Parr, cientista-chefe do Greenpeace.
Skype - Além de Bill Gates, outros milionários e bilionários, como o britânico Sir Richard Branson, da Virgin, e Niklas Zennström, cofundador do sistema de telefonia online Skype, ajudaram a financiar relatórios que avaliam o potencial de uso das tecnologias de geoengenharia.
David Keith, da Universidade Harvard, e Ken Caldeira, da Universidade Stanford, são os dois principais defensores do incremento das pesquisas sobre geoengenharia.
Por enquanto, receberam quase US$ 5 milhões de dólares de Gates para gerir o Ficer (sigla inglesa de Fundo para Pesquisa Inovadora em Clima e Energia).
Quase metade do dinheiro do Ficer, que vem dos fundos pessoais de Gates, foi usado para financiar as pesquisas de Keih e Caldeira. O resto está sendo distribuído para outros cientistas defensores de intervenções de larga escala no clima da Terra.
Patentes – Keith também é presidente de uma empresa de geoengenharia, a Carbon Engineering, que tem Bill Gates como um de seus principais acionistas. A preocupação dos críticos do lobby é que os cientistas teriam uma tendência a superestimar a eficiência da geoengenharia, já que poderiam lucrar com as patentes da tecnologia caso ela fosse colocada em prática.
“Há conflitos de interesse claros entre muitas das pessoas envolvidas nesse debate”, diz Diana Bronson, pesquisadora do grupo canadense ETC, crítico de tecnologias emergentes como nanotecnologia e geoengenharia.
“Todo cientista tem algum conflito de interessa, porque todos nós gostaríamos de ver mais recursos indo para o estudo de coisas que achamos interessantes”, rebate o climatologista Ken Caldeira.
“Eu acho que tenho influência demais, e não de menos. Faz muitos anos que defendo que as emissões de dióxido de carbono [principais causadoras do aquecimento] deveriam ser ilegais, mas ninguém nunca me ouviu”, completa Caldeira.
O cientista também diz que, caso suas patentes de geoengenharia sejam utilizadas, doará todos os lucros para ONGs e organizações de caridade. “Não tenho expectativa nenhuma e nenhum interesse de criar uma fonte pessoal de renda a partir do uso das minhas patentes de modificação climática”, diz o climatologista. Fonte: Folha.com
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