Será que você está realmente preparado para uma emergência? Um sinal disso é seu comportamento durante a simulação de incêndio do seu escritório. Você para de trabalhar e desce todas as escadas a pé até a saída? Ou fica na sua mesa, ignorando o alarme e as orientações da equipe de segurança?.
Eu confesso que era uma dessas funcionárias que freqüentemente corta o barato das simulações de incêndio. Mas foi um grande risco para mim mesma. Durante os ataques terroristas de 11 de Setembro, meus escritórios no World Financial Center foram evacuados, mas eu não tinha a mínima idéia de como sair porque nunca tinha usado as escadas durante uma simulação de emergência. Felizmente, um colega de trabalho me mostrou o caminho.
Seja participando de um exercício de simulação de incêndio, conhecendo melhor seus vizinhos ou prestando atenção ao discurso rápido das aeromoças sobre segurança, existem várias atitudes simples que todos nós podemos adotar para melhorar nossas chances em caso de emergência. Apesar de a maioria das discussões sobre o preparo para desastres se concentrar em ações coletivas, a variável mais importante em casos de emergências é nosso próprio comportamento.
Muito do que sabemos sobre sobrevivência em desastres vem de pessoas que passaram por isso. Suas histórias são coletadas em um novo e fascinante livro, "The Unthinkable: Who Survives When Disaster Strikes - and Why", da editora Crown (algo como “O Impensável: Quem Sobrevive Quando Os Desastres Acontecem – E Por Quê?”, em tradução livre). O livro foi escrito por Amanda Ripley, jornalista que já cobriu enchentes, incêndios e acidentes aéreos para a revista Time.
“Existem por aí pessoas que passaram por desastres e emergências e aprenderam coisas realmente interessantes”, disse Ripley. “Sempre fico impressionada com as histórias deles, mas não fazem parte do nosso debate nacional temas como preparação para emergências e segurança nacional”.
Além de conversar com sobreviventes, Ripley também investiga profundamente a ciência da preparação para emergências e sobrevivência. Uma das principais lições é que o pânico, a negação e o medo podem ser inevitáveis durante um desastre, mas seu cérebro irá funcionar melhor em uma situação extrema se você já absorveu alguns conceitos através de treinamentos.
Simulações
É por isso que a simulação de incêndio é tão importante. Você precisa descer as escadas em direção à saída para que seu cérebro armazene a memória física da experiência.
“Seu cérebro trabalha através de reconhecimento de padrões e durante uma situação extremamente assustadora ele seleciona aquela base de dados em busca de uma instrução”, disse Ripley. “É importante descer as escadas pessoalmente, a pé. Seu cérebro depende dessa memória e responde a ela mais rapidamente e melhor do que somente palavras.”
Um comportamento comum em caso de desastre é a tendência de permanecer na área e tentar levar coisas. Seja um edifício em chamas ou uma emergência no avião, as pessoas muitas vezes se movem surpreendentemente devagar e encontram motivos para atrasar o processo de evacuação. Ripley conta a história de uma mulher que, durante os ataques de 11 de setembro, ficou à toa em sua mesa de trabalho e pegou o livro que estava lendo, antes de sair do escritório. Até mesmo em aviões em chamas, onde os passageiros têm apenas alguns minutos para agir, antes que a fumaça se torne tóxica, algumas pessoas freqüentemente abrem os compartimentos acima dos assentos para retirar sua bagagem.
No entanto, estar ciente desse “instinto de levar as coisas” pode ajudar você a superá-lo. “É preciso se mover rapidamente, mas esse não será seu primeiro impulso”, disse Ripley.
O comportamento de grupo em um desastre também é surpreendentemente previsível. Apesar de existirem casos de pânico e fuga desesperada, a resposta mais comum é a do “pensamento em grupo”, afirma Ripley. As pessoas ficam juntas, seguem umas às outras e são civilizadas e aflitivamente devagar durante evacuações.
As pessoas também tendem a se ater aos seus papéis. Passageiros ouvem atentamente aos comissários de bordo; clientes ouvem os garçons e outros empregados. No incêndio do Beverly Hills Supper Club, em Southgate, Kentucky, em 1977, os clientes esperaram as instruções da equipe. Em entrevistas após a tragédia, na qual morreram 165 pessoas, 60% dos funcionários disseram que tentaram ajudar na evacuação e no resgate, mas apenas 17% dos clientes confirmaram essa atitude.
O líder
Uma pessoa que assume um papel de liderança em um desastre será invariavelmente obedecida. Naquele incêndio, centenas de vidas foram salvas por um ajudante de garçom que berrava ordens para a clientela de ricos, indicando onde e como evacuar a área. A noiva ficou responsável por evacuar os convidados durante a recepção do seu casamento.
Pequenas atitudes em um desastre podem aumentar suas chances de sobrevivência. Para passageiros de companhias aéreas, contar o número de fileiras entre seu assento e as saídas de emergência. Em caso de evacuação, a fumaça e a escuridão podem fazer com que seja difícil achar a saída. Ouça os comissários de bordo e leia o cartão de instruções cada vez que for voar, para que seu cérebro esteja programado para responder a essas situações.
Há duas décadas, Dr. Fred Helpenstell, cirurgião aposentado de Nampa, Idaho, sobreviveu a um acidente de avião em Denver que matou 28 pessoas. Enquanto sentia que o avião se inclinava, Helpenstell adotou a posição recomendada, protegendo sua cabeça, enquanto a parte do avião em que estava era esmagada. “A única coisa importante no cartão de instruções é a posição para quedas – colocar suas mãos em cima da cabeça, inclinar a cabeça para baixo e se preparar para rolar”, disse Helpenstell. “Não sei se isso era tecnicamente necessário, mas é um bom reflexo”.
Existem várias formas de se preparar para ameaças mais comuns, como incêndios, enchentes e outras emergências. Participe de treinamentos e simulações em casa e no trabalho. Tenha o hábito de trocar as baterias do seu detector de fumaça de forma programada, como todo dia 1º de cada mês ou cada vez que você trocar a lâmpada mais próxima dele. E conheça seus vizinhos, que podem ser um elemento muito valioso em caso de emergências.
“Precisamos entender que nossa própria sobrevivência também depende de nós”, diz Ripley. “Quem vai estar lá no momento de emergência é você, seus colegas de trabalho e seus vizinhos, não os pára-quedistas da segurança nacional. Quanto mais confiança você tiver antes que esses eventos aconteçam, menos debilitante será o medo e melhor será seu desempenho”.
Fonte: New York Times
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