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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Especialistas contestam previsão de cientista sobre terremoto na Itália

É possível evitar tragédias como a ocorrida nesta segunda-feira, 6, na Itália, quando um terremoto de forte intensidade devastou regiões no centro do país e causou a morte de cerca de cem pessoas? A resposta para esta pergunta, segundo especialistas entrevistados pela Folha Online, é não. Mas uma notícia veiculada logo após o violento tremor levantou dúvida sobre a possibilidade de se impedir uma catástrofe desse gênero.
O jornal "Corriere della Sera" publicou reportagem na qual afirma que o especialista italiano Giampaolo Giuliani previu um terremoto "desastroso" na região de Abruzzo [que de abril para cá registrou nove tremores sem danos]. O alerta, ignorado pelas autoridades italianas, gerou polêmica pelo fato de, talvez, se considerado, pudesse poupar a vida das cerca de cem pessoas vitimadas no tremor que atingiu a região e causou danos bastante graves em L'Aquila - capital de Abruzzo localizada a 110 km de Roma.
Mas especialistas alertam que é impossível prever um terremoto já que não há método garantido ou mesmo consenso na comunidade científica sobre os parâmetros a serem usados. "No momento, não é possível prever um terremoto, não é possível dizer exatamente onde, quando e qual sua magnitude", afirmou à Folha Online, por telefone, de Roma, Warner Marzocchia, cientista-chefe do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV) da Itália e coordenador do Estudo Cooperativo de Previsibilidade de Terremotos, instituto que atua em dezenas de países.
A previsão de Giuliani era sobre um terremoto devastador que atingiria a região de Abruzzo, onde fica L'Aquila, feita no dia 29 de março passado. O governo insistiu nesta segunda-feira, 6, que a previsão não tinha base científica, mas o sismologista exigiu pedido de desculpas.
"Com base nas altas concentrações de gás radônio [gás radioativo derivado do urânio no solo] em Abruzzo, uma área considera "sismologicamente ativa", Giuliani alertou as autoridades em meados de março que um grande terremoto aconteceria. Ele afirmou ainda ter estudado os tremores menores - que às vezes antecedem um terremoto de grande magnitude - que começaram a atingir a região italiana em janeiro deste ano.
"Há muitos estudos sobre possíveis sinais precursores de um terremoto, como o gás radônio [usado nas previsões de Giuliani], campos eletromagnéticos, comportamento animal. Mas, até o momento, não há nenhum que seja aceito pela comunidade científica, porque não há provas de que qualquer um deles efetivamente funcione para vários casos", explicou Marzocchia. Ou seja, há sinais, mas eles não podem ser considerados uma previsão.
Ignorado pelo governo, Giuliani começou a circular na cidade com uma van com alto falantes alertando para o terremoto, segundo relatou em entrevista ao jornal italiano "La Repubblica".
"Ele fez uma previsão para a semana passada, em outro lugar, não muito longe de L'Aquila. Mas se esvaziássemos a cidade e nada acontecesse, quem acreditaria em um alerta posterior?", questiona Marzocchia, que criticou Giuliani e chamou seu comportamento de "antiético". "Se sou cientista e digo que tenho um bom modelo para prever um terremoto, não vou falar com o prefeito de uma cidade ou com a mídia, vou falar com um colega ou com um centro que faça análise comparativa e isenta do método", acrescentou.
Padrão
A dificuldade em se prever um terremoto está na ausência de um padrão, já que os tremores normalmente acontecem de forma diferente a cada sismo e em cada região. "Não existe uma fórmula para prever terremoto. O que existem são estudos específicos para cada tipo de feição que antecede um tremor - que podem aparecer com anos ou apenas alguns dias antes do evento -, e como isso pode funcionar em área específica", explica o brasileiro Cristiano Chimpliganond, geólogo do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
Mesmo que Giuliani estude há muito tempo a emissão de radônio antes dos terremotos ocorridos nesta segunda-feira, 6, em Abruzzo, explica Chimpliganond, "nem sempre estas feições aparecem e, por isso, é difícil prever". Ele cita o exemplo da falha de San Andreas, no Estado americano da Califórnia (EUA), onde há anos está previsto um terremoto devastador iminente - que nunca ocorreu.
Adivinhação
O analista de terremotos do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) Don Blackman disse à Folha Online, por telefone, que há exemplos de boas previsões de terremotos, com base em métodos como os usados pelo italiano, mas que são uma rara exceção.
"Não há método confiável para prevenir terremotos. Houve no passado, na China, previsões bem-sucedidas, ou seja, previsões que erraram na data ou local por muito pouco. Mas há muito mais previsões que não funcionam", explica. "O que acontece, muitas vezes, é que se ouve falar mais das previsões acertadas do que as que não se cumprem. "
Segundo Blackman, o O USGS chegou a apostar em um programa de previsão de terremotos, que foi encerrado por falta de resultados de eficácia comprovada. "O que mais acontece é - e isso não pode ser considerado previsão - olharmos áreas sismologicamente ativas e estudarmos a frequência destes terremotos. Se o tempo entre um e outro for maior do que a média, o risco é maior de acontecer [um tremor]".
Marzocchia explica que, na Itália, este tipo de previsão também é frequente. "Sabemos que estas pistas funcionam, mas não para adivinhar o dia exato que o terremoto vai acontecer. Podemos dizer quais serão as áreas mais perigosas da Itália nos próximos dez ou 20 anos. Abruzzo é uma das áreas reconhecidas como de risco. Mas não há como afirmar quando exatamente vai haver um terremoto como o de hoje [esta segunda-feira]".
O máximo que os cientistas podem fazer por enquanto, explicam os especialistas, é aumentar a vigília sobre estes sinais em áreas onde há grande quantidade de terremotos ou alertar o governo de uma área vulnerável para que invista em sistemas de gerenciamento de emergências e construções resistentes aos abalos. "Isso é o melhor que podemos fazer cientificamente", diz Blackman.
Fonte: Folha Online

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