Funcionário deve saber se pode usar camiseta do time, por exemplo. Se houver regra que proíbe uso do traje pode haver demissão.
Em tempos de final de campeonato, é comum alguns torcedores mais entusiasmados decidirem ir para o trabalho com a camiseta do seu time, colocar bandeira, wallpaper, foto, flâmula no escritório ou até mesmo parar de trabalhar para assistir a jogos e comemorar em voz alta o êxito do time.
Mas, segundo especialistas ouvidos pelo G1, nem sempre essas demonstrações de amor pelo time podem ser bem vistas dentro da empresa. E, se a proibição do uso do traje estiver prevista em regulamento da empresa e o emprego tiver ciência das regras, ele pode ser demitido por justa causa caso desobedeça a norma.
Para a sorte do publicitário Cássio Alves dos Santos, 24 anos, a empresa para a qual ele trabalha, que atua no ramo da internet, não faz nenhuma objeção em relação ao culto ao time no ambiente de trabalho.
O são-paulino, que se considera fanático pelo tricolor paulista, garante que já participou até de reuniões com clientes usando a camisa do time. “Quando eu sei que haverá uma reunião no dia seguinte, não costumo ir com a camisa. Mas já aconteceu de eu estar com a camisa e ser chamado para uma reunião imprevista. Não teve jeito”.
Cássio diz que, nos três anos e meio que trabalha na empresa, já foi com a camisa do São Paulo pelo menos dez vezes. Na mesa de trabalho dele, há adesivos e wall paper do São Paulo. “Nunca tive problemas porque os diretores são todos são paulinos também.”
Apesar de a chefia torcer para o São Paulo, o publicitário garante que demais funcionários da empresa também costumam ir com a camisa de outros times para o trabalho. “O pessoal aproveita para fazer brincadeiras. Eu mesmo vou com a camisa do São Paulo para fazer provocação aos rivais quando meu time vence algum jogo”, diz.
Cultura da corporação
Segundo Marshal Raffa, gerente de planejamento de carreira da Ricardo Xavier Recursos Humanos, o funcionário torcedor tem que saber o limite dele dentro da empresa, entender a cultura da corporação e usar o bom senso.
“Na maioria das vezes nós já sabemos se podemos ou não usar camisetas ou colocar objetos que remetam ao time no ambiente de trabalho, mas caso o funcionário tenha dúvida se pode ou não fazer isso ele deve pedir para o chefe abrir uma exceção”, diz.
Raffa alerta, entretanto, para o caso de o patrão torcer para o time adversário. Nesse caso, vale o bom senso do funcionário.
“Às vezes os colegas do escritório se alteram quando o time deles perde, então nesse caso cabe evitar usar a camiseta do time que ganhou e fazer comentários sobre o jogo ou qualquer tipo de abordagem sobre futebol”, diz Raffa.
O consultor diz ainda que outra opção é ir com a camiseta do time por baixo de outra. “Às vezes o funcionário quer extravasar de qualquer jeito e essa é uma boa opção.”
Raffa alerta que em empresas em que os funcionários usam muito o telefone para contatar clientes ou que recebem parceiros no local não é recomendado que se deixe a TV ligada no jogo para que as manifestações dos funcionários torcedores não interfiram no ambiente de trabalho.
Outra dica do consultor é que o funcionário não minta para a chefia para poder assistir a um jogo importante seja no estádio ou em casa. “Se quer ver o jogo negocia com o chefe se houver liberdade para isso. Não pode inventar que está doente e chega no dia seguinte comemorando ou com a camiseta do time. Tem que ser profissional”, afirma.
Para Roberto Recinella, especialista em gestão do capital humano, o bom senso é sempre o limite para tudo.
“Ninguém gosta de perder e, às vezes, o fanatismo ultrapassa os limites da convivência. Brincadeiras são sadias desde que as pessoas levem na esportiva e estejam dispostas a participar. A sensibilidade do líder define a questão”, diz.
Ele considera que o uso de camiseta do time e de objetos que remetam ao time devem ser restritos à residência e estádio.
Para Recinella, as conversas sobre futebol durante o trabalho podem ir até onde o respeito e os limites não sejam afetados. “Se alguém deixa de colaborar com a equipe ou com um colega devido a divergências futebolísticas, então as conversas extrapolaram as relações e devem ser controladas. As pessoas devem ter maturidade para saber separar as coisas. Se não sabe brincar, não participe. Além disso, a competência de alguém não está ligada ao time que torce”, diz.
O especialista em recolocação profissional e presidente da Curriculum, Marcelo Abrileri, sugere que, mesmo quando a empresa permite o uso da camisa, ela seja usada somente às sextas-feiras. “É bom ser cauteloso e estar coberto de qualquer má interpretação. Não é porque é permitido que pode deitar e rolar. Às vezes, o exagero pode fazer com que o uso [da camisa do time no ambiente de trabalho] deixe de ser permitido.”
Demissão
De acordo com a advogada trabalhista Juliana da Silva Borges, se no regulamento da empresa houver a restrição ao uso de camisetas de futebol no ambiente de trabalho e o funcionário for mesmo assim com o traje ele pode ser demitido por justa causa.
“Se no regulamento da empresa houver alguma cláusula falando sobre trajes e vestimentas o funcionário pode sim ser demitido. Mas a empresa pode antes aplicar uma advertência e, caso o empregado torne a ir com a roupa, pode demiti-lo por insubordinação, o que caracteriza a justa causa”, explica.
Mas a advogada ressalta que o funcionário tem que ter ciência da existência do regulamento interno para que a empresa possa demiti-lo. “Geralmente as empresas entregam ao funcionário, no ato da contratação, esse regulamento. Se o empregado não tiver sido informado com antecedência, não cabe a justa causa”, diz.
Fonte: G1
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