Uma pesquisa do Laboratório de Virologia, da Faculdade de Medicina (FM), da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto, traz perspectivas para a criação de um medicamento capaz de controlar a infecção pelo vírus da dengue. O estudo foi iniciado há quatro anos e conseguiu inibir a replicação do vírus, protegendo as células contra a infecção, com a aplicação do RNA de Interferência (RNAi).
O estudo já foi realizado com o sorotipo 2 da doença, que ainda não tem vacina nem droga antiviral - a meta é chegar a uma droga antiviral que poderá impedir a progressão da doença para as formas mais graves. Nos próximos passos, a pesquisa será feita com os sorotipos 1, 3 e 4 do vírus e, possivelmente até o final deste ano, iniciar a experiência com macacos.
A bióloga Alessandra Cristina Gomes Ruiz, responsável pela pesquisa e orientada por Benedito Antônio Lopes da Fonseca, em trabalho de doutorado, acredita que agora as pesquisas serão mais rápidas, pois já tem a molécula "desenhada" (sintetizada) quimicamente em laboratório. "Demoramos quatro anos para construir esse mecanismo, e isso torna a seqüência do estudo mais rápida", comenta Alessandra. Essa molécula interferente foi desenhada para três diferentes regiões do genoma viral e clonadas num vetor, para que pudessem ser expressas dentro das células.
Na pesquisa, as células usadas foram as hepáticas (devido à importância do fígado na patogênese da doença) e as monocíticas (alvos da infecção pelo vírus da dengue).
Os resultados com as células estudadas com as diferentes moléculas interferentes desenhadas e testadas mostraram a capacidade de inibição da replicação do vírus, protegendo as células contra a infecção. Ou seja, a metodologia usada não previne a doença, mas poderá ser usada para controlar a dengue, impedindo a sua progressão para as formas mais graves, como o tipo hemorrágico, que pode levar a pessoa à morte. Hoje, para tentar amenizar os sintomas da dengue são usados antitérmicos para diminuir a febre e analgésicos, além da hidratação com soro.
Mas, para a aplicação em humanos, ainda são necessários muitos estudos. Alessandra diz que, em 2004, houve um primeiro estudo com essa metodologia em humanos para uma doença chamada degeneração macular relacionada à idade (AMD), com resultados promissores. "Para doenças virais, alguns estudos estão sendo realizados em pacientes com hepatite aguda e também em pacientes com HIV, e para os vírus da dengue existem pouquíssimos estudos ainda, sendo que na maioria foi com uso de mosquitos", diz a bióloga. "Assim, nossos resultados são bastante promissores e inéditos no Brasil", comemora ela.
Fonte: Estadão Online
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