O caso da estudante universitária que foi expulsa da escola por causa da minissaia trouxe de volta o debate sobre o uso de determinadas roupas no local de trabalho. Em um país tropical, como o Brasil, com altas temperaturas a maior parte do ano, há um estímulo natural ao uso de roupas leves. No entanto, especialistas em gestão de pessoas advertem que as roupas transmitem mensagens ocultas, que podem levar a dupla interpretação. Segundo Ralph Arcanjo Chelotti, presidente da ABRH-Nacional, com o crescente avanço da mulher no mercado de trabalho, a questão do que é ou não adequado vestir passou a ser motivo de discussão nas áreas de Recursos Humanos das empresas.
“Escritórios, fábricas, lojas, shopping centers e oficinas são ambientes de trabalho, onde é natural uma certa competitividade entre pessoas. Nesse sentido, a roupa que usamos transmite mensagens o tempo todo, mensagens que podem ser interpretadas de diversas formas, para o bem ou para o mal”, adverte.
Segundo Chelotti, a premissa de que as pessoas são livres para usar o que bem entendem precisa ser analisada com cuidado, pois vivemos em um ambiente social, onde as pessoas são julgadas, inclusive, pela forma como se vestem, por seu asseio e até pelo modo como falam.
“Não quero dizer que concordo com o fato da aluna ter sido expulsa da escola, o que me pareceu uma atitude absurda. No entanto, é importante que as pessoas percebam que tudo o que fazemos, falamos e o modo como nos apresentamos, fala a nosso respeito, daí porque é preciso refletir sim sobre o tipo de roupa que vamos usar na escola, no trabalho e até no lazer, com os amigos”, assinala, acrescentando que é possível, hoje em dia, observar empresas que estimulam as empregadas a usarem roupas mais chamativas como estratégia de atração de clientes, algo que pode ser visto em postos de gasolina, lojas de shopping centers, bares e casas de espetáculos.
Para Ângela Abdo, presidente da ABRH-ES, as empresas têm culturas próprias, que orientam sobre a roupa mais adequada a usar no trabalho. “Aqui no Espírito Santo, especialmente em Vitória, em função da proximidade da praia e do calor constante, a cultura local admite o uso de roupas um pouco mais curtas, mas, via de regra, a etiqueta corporativa não vê com bons olhos saias curtas ou blusas transparentes e decotadas. Não se trata de uma questão de moralismo, mas apenas do fato de que esse tipo de roupa pode levar a interpretações equivocadas, que irão gerar todo tipo de mal-entendido”, adverte.
Para Abdo, uma preocupação das empresas que têm profissionais que se relacionam com o público é evitar que o uso de roupas chamativas possa levar clientes a atitudes não profissionais, o que certamente significa desgaste de imagem. Ela recomenda que os empregados estejam atentos à cultura da empresa, às regras e normas e até à cultura da sociedade local, pois isso serve como balizador.
“Há empresas jovens, especialmente na área de internet, nas quais as pessoas têm um nível de informalidade muito grande, mas até mesmo nesses ambientes roupas provocativas podem gerar desentendimentos, pois sempre haverá alguém que pode interpretar uma roupa curta, decotada ou transparente de outra forma que não apenas um modo de vestir”, explica.
Segundo Pedro Fagherazzi, Presidente da ABRH-RS, nas empresas o uso da roupa, da linguagem e do comportamento das pessoas é controlado de forma mais sutil, sem explosões de violência ou perseguição como as vistas no caso da estudante universitária.
“Nas empresas, as coisas sempre conspiram a teu favor. Se você se veste de modo inadequado, diz coisas impróprias ou faz coisas pouco usuais, haverá sempre algum colega que vai te chamar e ponderar essas questões. Normalmente, as pessoas se adaptam rapidamente, até porque há sempre o risco de perder o emprego”, assinala.
Para o presidente da ABRH-RS, o modo como as pessoas se vestem no trabalho está diretamente relacionado à cultura das empresas. “As culturas empresariais, muito ligadas às culturas dos países onde as empresas atuam, são modos de fazer, pensar, se comportar. É, também, um filtro, pois as pessoas que divergem da cultura terminam deixando a empresa ou sendo demitidas. Até a mesma empresa, com filiais em países diferentes, tem culturas diferentes”, assinala, acrescentando que, nesse sentido, a maioria dos conflitos nas empresas encontra boa solução por meio do diálogo.
Segundo Manoel Mendes, presidente da ABRH-DF, o serviço público brasileiro tem normas estritas a esse respeito, que inibem o uso de roupas provocantes no espaço de trabalho. Em muitos casos, ele assinala, as pessoas usam uniformes, o que inibe esse tipo de comportamento.
“Embora uma funcionária pública não possa ser demitida por usar uma minissaia, por exemplo, o fato é que atitude, comportamento, são itens considerados para a evolução da carreira, o que inibe o uso desse tipo de roupas. Além disso, muitos funcionários públicos atendem pessoas, se relacionam com o público, daí porque o uso de roupas adequadas, formais, é importante para transmitir uma imagem de profissionalismo”, explica.
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