Um grupo de 38 empresas, pertencentes a áreas da indústria que emitem grande quantidade de gases-estufa, contribuíram R$ 60,8 milhões para campanhas políticas nas eleições de 2006 no Brasil.
Os doadores pertencem a 12 associações nacionais representando indústrias de grande intensidade de carbono (ou seja, que produzem grande quantidade de gases do aquecimento global), como agronegócio, energia, carne, papel e celulose, cimento, mineração, óleos vegetais e siderurgia.
Em parte porque não existem regulamentações para o emprego de lobby no Brasil, não se pode estimar se essas contribuições de campanha estão ligadas à legislação sobre a mudança climática. Mas elas são capazes de abrir portas. O financiamento vindo das indústrias intensivas em carbono ajudou a eleger metade da comissão da Câmara dos Deputados que está considerando mudanças no Código Florestal.
Nesse caso, após intensa disputa, os deputados ruralistas conseguiram eleger Moacir Micheletto (PMDB-PR) como presidente da comissão. Sua proposta é deixar a legislação ambiental a cargo de cada Estado. Entre os financiadores de Micheletto estão a Bunge Alimentos (com contribuição de R$ 70 mil) e a produtora de carne Marfrig (R$ 30 mil).
A comissão conjunta de mudança climática, criada em março deste ano para discutir leis sobre o tema, tem menos membros financiados por indústrias de grande intensidade de carbono. Apenas 11 de seus 44 membros receberam doações desses setores da economia. Ao todo, 25 dos 27 partidos políticos do país foram agraciados com essas contribuições em 2006. A maior concentração foi para o PSDB e o Democratas (então PFL), que respondem por 38% das doações totais. Junto com o PMDB, esses dois partidos de oposição perfazem 54% do montante.
Dos 719 candidatos que receberam dinheiro dessas empresas, mais da metade (51,3%) é composta por políticos dos Estados, como governadores e deputados estaduais. Parlamentares federais correspondem a 48% da soma. Mas o presidente Lula também está entre os que receberam doações.
Mais de um terço do dinheiro (37%) foi contribuído pela indústria do aço, encabeçada pela Gerdau, com quase R$ 11 milhões. Mais de um quarto (26%) veio de membros da indústria de papel e celulose, em especial da Aracruz. Já a Bunge, que está fazendo lobby intenso em nível internacional pela aprovação de leis mais tímidas sobre mudança climática, seria a sexta maior doadora se tivesse repartido suas contribuições entre suas duas divisões, a de alimentos e a de fertilizantes.
Ambiente favorável - Em entrevistas, funcionários do governo e especialistas dizem ter dificuldade de citar empresas que tenham um lobby ativo em relação à mudança climática no Brasil. Um ex-assessor do governo para assuntos energéticos, que pediu para não ser identificado, afirma que o lobby nessa área no Brasil é pouco visível porque tudo já favorece as indústrias poluidoras no país.
"Em Copenhague, vamos ver a indústria americana do carvão, por exemplo, distribuindo abertamente folhetos em favor de seus interesses. As indústrias brasileiras não farão o mesmo porque não precisam", declarou o especialista.
Apesar disso, associações da indústria estão se posicionando sobre as negociações internacionais do clima, algumas pressionando contra metas de redução de emissões que afetem setores específicos da economia brasileira.
Uma das principais é a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a entidade, levar metas a Copenhague atrapalharia o crescimento econômico e seria só uma forma de "mostrar ativismo". Os industriais reclamam que as necessidades do setor não estão sendo ouvidas o suficiente no debate sobre as mudanças climáticas.
"Não houve discussão, principalmente com o setor privado, para o Brasil se envolver com uma meta mais geral", diz o diretor executivo da CNI, José Augusto Fernandes. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) diz temer que a adoção de metas sem contrapartida dos países ricos trave a competitividade do Brasil.
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