O fator humano é, indiscutivelmente, o maior responsável pela ocorrência de acidentes de trânsito, razão pela qual se traz à discussão alguns aspectos psicofisiológicos nos campos da Ergonomia, da Semiótica e da Sinalética. É o caso da recepção e da percepção de estímulos visuais pelo ser humano na circulação de veículos.
Do processo de desempenho do fator humano no trânsito fazem parte algumas funções psicofísicas: recepção, percepção, intelecção, controle e resposta. Nesse contexto inserem-se os aspectos físicos (visual, cinestésico, vestibular e auditivo) assim como os aspectos psíquicos (motivação, nível de inteligência, processo de aprendizagem, atenção, atitude, maturidade e reações condicionadas).
O estudo das características humanas torna-se de extrema importância na análise do desempenho de conduzir veículos, pois o tempo de resposta a uma situação do tráfego tende a ser maior quando o condutor está afetado pela fadiga, pelo uso do álcool e outras drogas e, também, sob certas características e circunstâncias psicológicas e fisiológicas.
Por tempo de resposta entende-se o intervalo de tempo entre o instante em que um estímulo é submetido a uma variação brusca e o instante em que a resposta atinge e permanece dentro de limites especificados em torno do seu valor final estável. Assim, entende-se como características psicofísicas a combinação de qualidades físicas e mentais do fator humano participante do sistema de trânsito: acuidade visual, tempo de reação, audição, percepção de profundidade, visão periférica, destreza de manipulação, percepção de cores, etc.
Na função recepção, a visão é o fator físico mais importante para os condutores e pedestres, sendo que cerca de 90% das informações necessárias para a tomada de decisões rápidas, nas situações de trânsito, são comunicadas pelos olhos.
Os nervos óticos conduzem ao cérebro as informações passadas pelas imagens transportadas pela luz refletida através da íris. Estas se concentram na fóvea, uma pequena área próxima do centro da retina, onde a percepção visual é mais nítida ou aguda. A vista funciona como se estivesse em uma câmara fotográfica, que recebe as imagens e as repassa ao cérebro para serem interpretadas em áreas especializadas: a visuognósica, a visuosensitiva e a visuopsíquica.
A acuidade visual depende de ambos os estados de um motorista: do psíquico e do físico, que atuam de forma interagente. Em termos físicos, são fundamentais as condições de funcionamento do sistema ocular. Em termos psíquicos, também são importantes as reações psicoemocio-nais que as imagens recebidas provocam no condutor que, por sua vez, depende do nível de desenvolvimento de sua inteligência emocional e de sua história intrapsíquica.
Aberturas
A velocidade de percepção depende de uma boa visão, pois é função de vários fenômenos como a acomodação da vista às distâncias e a adaptação da vista ao deslumbramento ou à escuridão, ou ainda de contrastes dos estímulos visuais de objetos presentes no campo visual dos motoristas e dos pedestres inseridos na circulação.
O campo visual compreende um cone dividido em duas zonas distintas: a visão frontal e a visão periférica. A visão frontal corresponde a um cone visual com abertura angular de cerca de 25º, centrado na linha de visão na direção e sentido do movimento, sendo que em uma faixa de abertura com um ângulo central de zero grau a três graus tem-se a visão aguda, de três a 10 graus a visão é clara, e até 25 graus ela ainda é razoavelmente satisfatória. Por essas características da visão humana é que os sinais de tráfego e as marcas devem cair dentro desse cone de visão clara (10 graus). Além dessa abertura, a acuidade de leitura e interpretação cai rapidamente.
Já a visão periférica situa-se no cone externo ao primeiro, cuja abertura, dependendo da pessoa, varia de 120º a 180º, zona em que a visão é totalmente imprecisa. Assim, uma pessoa com visão normal pode perceber a presença de objetos, porém sem distinguir detalhes.
Esses valores dos níveis de acuidade visual correspondem a uma pessoa parada como o pedestre, situação denominada de acuidade visual estática.
Na circulação viária ocorre um fenômeno visual dinâmico, considerando que tanto o observador quanto os objetos estão em movimento, que corresponde ao que se chama de percepção visual em profundidade: capacidade de destacar os objetos em movimento, de avaliar suas dimensões e de estimar distâncias e velocidades. Entretanto, essa capacidade depende das velocidades praticadas, que afetam a amplitude do campo visual. Na medida em que cresce a velocidade, o campo visual tende a diminuir sua abertura e a aumentar linearmente a distância focal. Esse aumento de velocidade provoca no motorista o efeito `visão de túnel’ ou visão tubular, que tende a reduzir a percepção lateral.
Fonte: Revista Proteção
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