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terça-feira, 25 de setembro de 2007

Aprenda a dizer "não"

Algumas pessoas com quem você se relaciona em casa ou no trabalho andam folgadas demais e você se chateia com o comportamento delas? Entretanto, por ser da paz você não quer arrumar encrenca e prefere engolir sapo e ficar no seu canto?
Saia dessa, amigo. Está na hora de deixar de ser o bonzinho e botar essa turma na linha. Você não vai, gratuitamente, azucrinar a vida de ninguém. Por outro lado, também não vai baixar a cabeça e permitir que os outros tripudiem sobre você.
Se você tiver de escolher entre ficar aborrecido porque se manteve quieto diante do comportamento inconveniente de alguma pessoa ou agir para se defender, mas com chances de que ela se chateie, meta o xis na segunda hipótese.
Dizer "não" e recusar é uma arte que leva uma vida inteira para ser aprendida e aperfeiçoada. Uma arte que precisa ser cultivada o tempo todo, pois nunca desaparece o risco de que possamos cair em tentação, fraquejar diante do canto da sereia e dizer sim, quando na verdade desejaríamos dizer não.
Se alguém que trabalha ao seu lado costuma fazer brincadeiras de mau-gosto diante de outras pessoas e isso o incomoda. Se a sua namorada ou namorado tem o péssimo hábito de não cumprir horários e esse descompromisso o chateia.
E você se desgasta porque não consegue dizer que gostaria muito que adotassem outro jeito de se comportar, está mais do que na hora de você mudar e aprender a ser mais assertivo.
Saiba, entretanto, que ter uma atitude assertiva não significa declarar guerra e passar a digladiar com outras pessoas, mas sim dizer tudo o que for necessário, na hora certa e da maneira apropriada.
Quando as pessoas adotam a política do "deixa pra lá" e se mantêm passivas diante das situações que as incomodam, o resultado pode ser desastroso. Além do desconforto que as infelicita, correm o risco de se sentirem tão pressionadas que às vezes não conseguem medir suas reações. Algumas perdem o controle, viram a mesa e se tornam agressivas.
Se aquele colega de trabalho não souber que as brincadeiras que faz diante das outras pessoas o incomodam, poderá interpretar erroneamente que o motivo da sua cara emburrada seja outro.
Com atitudes assertivas você terá condições de construir relacionamentos mais sólidos, projetará uma personalidade mais consistente e terá mais atenção e admiração das pessoas.
O primeiro passo na busca da assertividade é aprender a não ser agressivo. Saiba como se relacionar com as pessoas de maneira clara, direta, objetiva, mas sempre levando em conta os sentimentos que elas possuem e a circunstância em que se encontram.
Insisto, não confunda ser assertivo com ser agressivo. Não saia por aí armando barraco, repreendendo as pessoas porque não agem de acordo com sua vontade. Isso é grosseria, não assertividade.
A comunicação assertiva tem por objetivo esclarecer situações obscuras, enevoadas, que por não serem discutidas de forma correta e permanecerem desconhecidas por pelo menos uma das partes podem produzir desconfortos e mal-entendidos.
Como e onde falar
Naquele exemplo hipotético que vimos acima, como você deveria falar com o colega de trabalho que o incomoda com aquelas brincadeiras?
Você poderia falar, sem tom de crítica, como o comportamento dele se repete quando estão diante de outras pessoas, como essa atitude o deixa contrariado e pediria para que ele mudasse a maneira de se comportar. Em seguida explicaria como você se sentiria mais confortável e mais à vontade com essa mudança.
Embora você devesse evitar o tom de crítica, provavelmente ele sentiria que o comportamento dele está sendo criticado e tentaria se defender com gracejos, risadas ou comentários que pudessem minimizar a importância do fato.
Por isso, durante a conversa você deveria falar de maneira firme, sem hesitações, para deixar claro que o assunto é importante. Entretanto, repito, sem agressividade.
Nessas circunstâncias é muito importante, embora seja difícil, não demonstrar nervosismo ou descontrole emocional.
Se um dia você passar por situação semelhante, fale sem desviar os olhos do interlocutor. Evite esfregar nervosamente as mãos. Não grite nem segure a voz na garganta.
Para agir assim você precisará de prática e de determinação. Exercite inicialmente em situações mais simples, com pessoas mais próximas, onde as conseqüências não sejam tão graves. À medida que for se sentindo mais experiente e seguro atire-se em empreitadas mais complexas.
Escolha o lugar certo. Esse tipo de conversa não pode ocorrer diante de outras pessoas, nem em lugares inadequados como corredores ou elevadores. Muito menos por telefone.
Quanto mais reservado for o lugar da conversa maiores serão as chances de sucesso. Procure falar também em um horário com pouca ou nenhuma chance de interrupção.
O coração vai disparar. Eu sei que nem sempre é tão simples agir assim, mas esse é o melhor caminho a ser seguido. Mesmo que o coração esteja saindo pela boca, faça o possível para manter o equilíbrio.
Não dê uma de coitadinho. Nada de chororô. Se quiser ser respeitado e ouvido seja firme, olhe na direção do interlocutor sem fugir com os olhos, fale "para fora", não fique esfregando as mãos ou cruzando e descruzando as pernas nervosamente. Mostre que você tem razão.
Prepare-se para o embate
Principalmente se você não estiver acostumado com conversas assertivas, saiba que terá de aprender a lidar com os sentimentos. Com os seus e com os do seu interlocutor.
Não existe atalho mágico. Por mais gentil e claro que você seja, ao dizer a uma pessoa que o procedimento dela o desagrada, poderá provocar uma atitude defensiva e, em alguns casos, até agressiva.
Por isso, prepare-se para enfrentar essas reações como sendo normais e fazendo parte do processo. Tenha em mente também que nem todas as pessoas aceitarão uma conversa mais franca.
O importante é saber que a situação deve ser resolvida, ou por ser errada, ou por ser injusta, ou porque o desagrada.
Você agirá da forma mais eficiente que puder para não desagradar ou não tornar a outra pessoa infeliz, mas se isso vier a ocorrer, ela deverá se conscientizar de que não estava agindo de maneira adequada e encontrar dentro de si mesma o equilíbrio de que precisa.
Tome cuidado também para não imaginar desnecessariamente e de forma exagerada que a outra pessoa irá se sentir muito mal ao ouvir suas ponderações.
Embora isso possa ocorrer, nem sempre acontece e, quando surge a reação negativa, na maioria das vezes a intensidade é menor do que se esperava.
Saiba que se acomodar em conversas superficiais, evitando esclarecer situações que o incomodam é só uma forma de adiar um confronto que no futuro terá muitas chances de ocorrer.
Sem contar que embora possa existir um desconforto momentâneo, os resultados da comunicação assertiva projetarão sua imagem e sua personalidade de maneira muito mais positiva.
O preço de ser assertivo
Para dizer a alguém o que precisa ser dito com o fim de esclarecer mal-entendidos, marcar sua posição, reorientar rumos, tomar partido e até afastar da vida algum desconforto ou incômodo, será preciso conviver com algumas pessoas magoadas e até enfurecidas.
Lógico que com jeito, traquejo e experiência essas inconveniências vão diminuindo, mas nunca desaparecerão totalmente. Cabe a você decidir se vale ou não a pena ser mais respeitado e viver uma vida plena e enfrentar alguns pequenos dissabores, ou continuar incomodado e até infeliz só para que as outras pessoas que o estão desconsiderando não sejam perturbadas.
Vá com calma. Não precisa tratar todas as situações a ferro e fogo. Se você se comportar com sensibilidade, inteligência, bom senso e capacidade de discernimento, saberá julgar quando é o momento de agir e quando deverá se resguardar.
Se essa conversa servir para que você faça uma boa reflexão sobre as vantagens e as inconveniências de ser assertivo, ficarei satisfeito. Espero que tome sempre a melhor decisão para melhorar o relacionamento com as pessoas e, acima de tudo, que seja muito feliz.
Reinaldo Polito

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