Sem colocar um cigarro na boca, garçons que trabalham na noite de São Paulo têm níveis de monóxido de carbono no organismo que alcançam os de fumantes. Convidada pelo G1, uma equipe do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) usou um monoxímetro, o “bafômetro do cigarro”, para testar o grau de exposição desses trabalhadores às substâncias nocivas do cigarro.
Três garçons e uma garçonete que trabalham no bar e restaurante Na Mata Café, no Itaim Bibi, na Zona Sul de São Paulo, participaram do teste, realizado na noite de quinta-feira, 4. Nenhum deles fuma e, apesar disso, todos tiveram o nível de monóxido de carbono aumentado depois de algum tempo de trabalho - e muita exposição à fumaça do cigarro dos clientes. Alguns atingiram níveis observados em fumantes.
O monoxímetro está sendo usado em blitze educativas realizadas pela Secretaria de Estado da Saúde antes da entrada em vigor, no dia 6 de agosto, da lei antifumo, que proíbe o cigarro em ambientes fechados de uso coletivo. “Ele [o aparelho] serve para a conscientização da população. Você mensura a quantidade de monóxido para as pessoas perceberem que essa é uma questão de saúde pública”, afirma a médica Stella Regina Martins, coordenadora do programa de atenção ao tabagista do Cratod.
Muito prejudicial ao organismo, o monóxido de carbono começa a ser liberado quando o fumante acende o cigarro. “No nosso sangue existem células que têm como função captar oxigênio. Quando você está exposto a um nível alto de monóxido, ele invade essa célula e não deixa o oxigênio entrar. E intoxica o organismo”, explica Stella. O aparelho é capaz de medir a concentração do monóxido no ar expirado.
Teste
Em apenas uma hora exposto ao cigarro dos clientes, o garçom Manoel Severino de Lima, de 44 anos, teve a quantidade de monóxido de carbono quadruplicada. No primeiro teste, realizado às 21h35 de quinta-feira, ele tinha 3 ppm (partículas por milhão) no ar expirado.
A área de shows do Na Mata Café, onde ele trabalha, abre ao público às 22h. O teste foi repetido às 23h e o aparelho registrou 12 ppm. Essa quantidade é, geralmente, encontrada em fumantes. “Realmente, é muita coisa”, disse Lima após conhecer o resultado.
A garçonete Wanessa Kelly Siqueira de Coimbra, de 25 anos, registrou 0 ppm (partículas por milhão) por volta das 21h20. Ela trabalha de segunda a sábado na mesma área de Lima. Por volta das 23h, ela apresentava 3 ppm no organismo. “Saio com a garganta ardendo, o nariz entupido. Fora o cheiro que fica na roupa e no cabelo”, conta.
Os garçons Cláudio Pereira da Rocha, de 51 anos, e Marcionilho da Rocha Leite, de 49 anos, trabalham no restaurante do Na Mata, que abre ao público às 20h. Três horas depois, eles apresentavam, respectivamente, 8 e 14 ppm no ar expirado, também níveis de fumantes. Segundo Stella Martins, o monóxido demora cerca de 8 horas para ser totalmente eliminado do organismo.
Lei antifumo
A médica defende que a lei antifumo foi criada também para proteger esses profissionais, que podem ter a saúde prejudicada por causa do cigarro no ambiente de trabalho. Segundo Stella, pesquisas mostram que os garçons têm a concentração de monóxido aumentada de três a cinco vezes depois de um dia de trabalho. “É uma lei feita para proteger o não fumante e esse setor está mais exposto”, defende.
O gerente do estabelecimento, Maurício Mariano, também sente o impacto do cigarro dos clientes. “Eu chego em casa puro cigarro, não tem jeito. Não consigo dormir sem tomar um banho”, contou. Apesar da preocupação, também citada pelos funcionários, de uma possível queda de movimento com a nova lei, Mariano concorda que ela trará benefícios para a saúde dos empregados. “Vai ser bom”, afirma.
Fonte: G1
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