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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Líderes anônimos e ousados.

Por: Rosalvo Bastos Junior

Recentemente, fui convidado por um aluno da PUC São Paulo para assistir e acompanhar apresentação de um TCC do Curso de Administração de Empresas. Estavam na sala rapazes e moças, aproximadamente uns trinta alunos.

Eu, sendo pai de um deles, estava observando as atitudes dos alunos e comparando com minha turma de décadas atrás, na ESAN, quando fiz minha “facul”, como eles chamam agora.

Sentei-me entre eles e mais um pouco, percebi que estavam curiosos por minha presença ali.

Uma jovem Professora chegou e veio me cumprimentar, deixando-me à vontade como observador e pedindo que eu me apresentasse à turma. Falei sobre meu propósito, que seria simplesmente um observador e uma espécie de “ancora psicológica” para meu filho.

Após minha breve apresentação e sem tecer maiores detalhes, um dos alunos não se conteve e me perguntou: Qual o motivo de sua presença aqui? Pois estranhos em sala de TCC é ato incomum.

Achei que a pergunta poderia ser motivada talvez pelo desconforto de ter na sala uma pessoa desconhecida e alheia ao propósito daquele fórum.

Tive então que contar que meu filho havia sofrido um AVCI – acidente vascular cerebral isquêmico, há 6 anos, aos 22 anos de idade quando cursava o segundo ano de ADM. Relatei o fato porque a maioria não o conhecia ainda, pois eram de turmas diferentes na época do acidente.

Expliquei, sem descer aos detalhes do acidente, tratamento etc., que meu filho confia ainda a mim eventuais responsabilidades que eu não deveria mais assumir, e sim ele, a essas alturas do curso de sua história pessoal. Porém, entendia que de alguma forma ainda serei, não por muito tempo, essa ancora de balizamento de sua vida.

Então ocorreu uma mudança naquele ambiente universitário. Iniciou-se um debate entre os alunos e a banca examinadora e passei a ser um tipo de “moderador” do evento. “O foco do debate passou a ser sobre as “superações e a capacidade de adaptação da vida humana”.

Então, o mesmo aluno que havia iniciado aquele debate, pediu aos professores que aceitassem uma mudança na agenda e que meu filho fizesse sua apresentação primeiro, na frente dos demais alunos, portanto, subvertendo a ordem das apresentações.

Meu filho me olhou assustado, como se me perguntasse: “o que esta acontecendo?” Ou, “não estava no combinado isso”. Ele havia se tornado um rapaz tímido após o acidente, no auge de seus 22 anos e havia então se fechado como um casulo. Olhei dentro dos olhos dele como se dissesse: “calma filho, vai dar tudo certo”. Francamente, tenho que admitir que eu também estivesse apavorado, pois ele havia se preparado tanto, durante meses, superando tantas dificuldades. E agora, havia o perigo de que aquela mudança no rito da apresentação com ele se tornando o foco das atenções, naufragasse na sua insegurança, pavor em falar em público e, alem disso e mais perigoso, a sua auto-estima pressionada e cobrada de forma tão invasiva.

Mas aí, ocorreu uma virada no cenário. Ele se moveu, foi até a frente, inseriu o pen drive no notebook, limpou a garganta e iniciou a apresentação de seu trabalho, afinal de contas sua história de vida tinha sido inserida ali naquele contexto.

A banca observava seus movimentos curiosamente. Fez-se um silêncio admirável no ambiente da sala, percebi que os alunos se acomodaram melhor em seus lugares, um deles levantou-se e foi fechar a janela para reduzir o barulho do corredor. Minha curiosidade virou angústia.

Então, o João Guilherme começou sua apresentação sobre o tema: Desenvolvimento de Deficientes Físicos no Mercado de Trabalho. Inicialmente apreensivo e inseguro, mas aos poucos se desprendeu das amarras da timidez e foi com facilidade apresentando, expondo e mudando os quadros do Powerpoint que tão bem havia planejado e organizado.

Falou sobre sustentabilidade, sugeriu mudanças no comportamento da humanidade, dos dirigentes políticos, das pessoas, das corporações etc. Chegou ate a aconselhar sobre uso indiscriminado de drogas e falava com tanta segurança e convicção que eu não conseguia entender, por que o mundo ainda resiste às mudanças tão necessárias?

Fiquei impressionado com a apresentação, com sua clareza de ideias, com os exemplos que eu percebi, havia citado extra script, pois quase não olhava para a tela do data show. Não havia mais aquela insegurança própria dos tímidos, aquela tez branca, fria e transpirante, mãos trêmulas, nada que demonstrasse estar inseguro. Estava altivo, dominava as ideias, o raciocínio, à vontade, a sala estava perplexa e em silêncio absoluto. Fim da apresentação. Ele agradeceu. Os alunos se levantaram e aplaudiram efusivamente. A banca levantou-se e veio até meu filho cumprimentá-lo. Duas moças ao meu lado choravam compulsivamente. Eu claro, também muito emocionado olhei para traz e vi aquele rapaz que havia iniciado toda a mudança do rito de apresentação com a iniciativa de uma pergunta sobre minha presença ali, meio fora de momento.

Ele estava olhando firme para o JG, tranqüilo, seguro e com o semblante próprio de um líder carismático e capaz de mudar o mundo com uma simples pergunta. Observava a sala com a visão de um líder que busca enxergar mudanças coletivas e significativas.

Levantei-me, fui até ele. E faltando-me palavras que eram absolutamente desnecessárias, dei-lhe um efusivo abraço de admiração, voltando para o meu assento. Em pensamento agradeci a Deus, por meu filho ter superado a insegurança de falar em público.

Conclui ao sair dali: Os maiores líderes podem nascer do anonimato e serem grandes agentes de mudança, por acreditarem em seu dom impaciente de elaborarem perguntas aparentemente desconfortáveis.

Um comentário:

Helena Ribeiro disse...

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Abraços,
Bastos Junior