O cenário descrito acima está entre aqueles que mais abalam os profissionais de emergência. A presença de uma criança entre as vítimas causa comoção e pode acarretar o início de um processo de adoecimento emocional, assim como outras situações impactantes de vida e de morte.
Extremamente vulneráveis, bombeiros, resgatistas, brigadistas e socorristas são expostos diariamente, por sua atividade, a experiências com excessivo sofrimento humano.
A atuação destas equipes se dá em um ambiente carregado de fatores estressantes, tanto físicos quanto psicológicos. Há dor e morte de famílias inteiras, acidentes de grande violência, perda da vítima durante o atendimento e até o óbito de colegas. Tudo isto, inevitavelmente, irá afetar não só o homem, como o profissional, implicando em prejuízos de convivência familiar e de desempenho das suas atividades.
Ib Martins Ribeiro, psicólogo especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho, tenente-coronel da reserva da PMESP (Polícia Militar do Estado de São Paulo) e consultor em Psicologia de Emergências, lembra que essa condição é cotidiana e não apenas fruto de um desastre de grande magnitude.
"A subjetividade e a contínua exposição são facetas que potencializam a vulnerabilidade dos profissionais de emergência, pois o efeito cumulativo do estresse diário pode levar ao adoecimento ao longo da carreira", afirma.
Acreditar em heroísmo e onipotência são características que agravam o quadro de abalo emocional. Para a psicóloga e psicoterapeuta Maria Helena Pereira Franco, professora da PUC-SP, fundadora do LELu (Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto) e do Grupo IPE (Intervenções Psicológicas em Emergências) e vice-presidente do IWG (grupo internacional sobre morte e luto), isto serve para afastar o profissional de suas reais possibilidades, impedindo-o de atuar dentro de sua condição humana, que deve ser preservada.
"O mito do herói, alimentado pela mídia na exploração das ocorrências e pelas corporações em seu preparo do profissional, deve ser levado em conta como uma perigosa armadilha para a saúde e a vida deste profissional", alerta.
Outro equívoco é revelar constrangimento ou preconceito em admitir os sintomas de adoecimento. Na opinião da tenente-coronel Dilene da Silva Costa, psicóloga do Centro de Assistência do CBMDF (Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal), a desinformação quanto às questões de saúde mental e a cultura militar favorecem o receio em solicitar atendimento. "As preocupações dizem respeito a ter seu sigilo violado, ter prejuízos na realização de cursos institucionais ou em promoções", diz.
Estes desafios, no próprio CBMDF e em outros serviços e instituições, vêm sendo enfrentados sob o aspecto preventivo. Para a psicóloga Angela Elizabeth Lapa Coelho, professora do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa) e consultora do Conselho Federal de Psicologia, o ideal é contar com o profissional da área da Psicologia para um trabalho rotineiro e sistemático, abordando ainda a contribuição do trabalho também realizado com a família.
Fonte: Revista Emergência
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