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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Alto índice de acidentalidade em frigoríficos preocupa.

Valdirene João Gonçalves da Silva tem 40 anos e está aposentada por invalidez. Após 11 anos de trabalho em uma empresa frigorífica de Forquilhinha/SC, ela teve um de seus braços totalmente comprometido por uma LER/DORT adquirida ao longo desse período. Ela, que quando trabalhava chegava a desossar oito sobrecoxas de frango por minuto em jornadas que du­ravam cerca de 10 horas, foi acometida pela doença em 2005, sendo que desde então, precisa tomar morfina, de quatro em quatro horas, para suportar a dor que é constante. "Desde que adoeci, não vivo mais. Já passei por inúmeros tratamentos médicos, todos dolorosos, mas nenhum deles sanou a minha dor. Hoje sou deficiente e tenho meu braço esquerdo a­trofiado", lamenta Valdirene, que pagou um preço alto pelo descaso da empresa com as condições de saúde e segurança dos seus funcionários. "A cobrança por produção era alta demais. Se me queixava de dor, era chamada de preguiçosa. Co­mo precisava do trabalho, chegava ao limite da minha dor para conseguir dar conta do serviço", lembra.

O caso de Valdirene retrata a triste realidade do segmento de abate e de pro­ces­samento de animais para alimentação. O setor, que emprega cerca de 800 mil trabalhadores em todo o País, é responsá­vel por altos índices de acidentes e adoe­ci­mentos entre os trabalhadores. Segundo dados do INSS, nenhuma atividade econômica gerou mais acidentes e adoeci­mentos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás quanto o trabalho em frigorífico nos últimos três anos. Além disso, a estatística mostra que quem realiza este trabalho tem quatro vezes mais chance de ter transtornos mentais do que alguém que atua em qualquer outro segmento.

Sistema

Na opinião do médico do Trabalho Ro­berto Ruiz, este grande índice de aciden­talidade e adoecimento na agroindústria está diretamente ligado à forma de organi­zação do trabalho. "O sistema de ­trabalho adotado pelas empresas deste segmento é extremamente prejudicial ao funcionário. Isso porque são jornadas diárias de mais de oito horas sem pausa, repetiti­vidade de movimentos, falta de equipamento de proteção e ritmo intenso de trabalho. A estrutura está errada e enquanto isso ocorrer, nada mudará", afirma Ruiz.

Atualmente, estima-se que o número de movimentos repetitivos feitos pelo trabalhador do setor esteja entre 90 e 120 movimentos por minuto, sendo que este percentual não deveria exceder o número de 25 a 33 movimentos por minuto para evitar doenças ocupacionais como as LER/DORT. De acordo com o procurador do Trabalho do Ministério Público de Santa Catarina, Sandro Eduardo Sardá, os trabalhadores acabam realizando cerca de 15 mil movimentos por jornada, o que impossibilita um mecanismo de recuperação eficiente. "As atuais condições de trabalho oferecidas nas unidades frigoríficas são absolutamente incompatíveis com a saú­de na forma mais ampla, tanto da parte física quanto da psíquica", avalia Sardá.

Além do ritmo excessivo, das longas jor­nadas e dos fatores antiergonômicos co­mo, por exemplo, mobiliário inadequado, repetitividade e monotonia, o médico do Trabalho Roberto Ruiz ressalta que a atividade expõe o trabalhador a fatores de ris­co excedentes. "Eles convivem com va­riações bruscas de temperatura, umidade e ambientes ruidosos, o que vejo como um risco adicional ao já extenuante trabalho", constata.
Fonte: MPT-SC

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