A beleza é valorizada no mercado de trabalho brasileiro, chegando a influenciar na percepção de competência profissional. Além disso, existe o estereótipo da executiva bem-sucedida no país, que contempla características tanto físicas quanto comportamentais. Essas são algumas das conclusões do estudo “Beleza e carreira no Brasil – O significado da beleza para as jovens executivas e seu papel no mercado de trabalho”, elaborado pela executiva de Marketing Juliana Penha Gomes, aluna de mestrado da Fundação Getúlio Vargas, com orientação do professor Marcos Cobra.
Para a realização do trabalho, a autora entrevistou mulheres de 32 a 37 anos, recrutadores e estudou a literatura sobre identidade feminina e comportamento de consumo. Após isso, constatou que existem outras características, que não aparecem nos anúncios de emprego ou nas revistas de negócio, que influenciam a escolha do profissional, relacionadas à sua imagem.
Estudos analisados por Juliana sugerem que o crescimento salarial, derivado de promoções e aumentos, é mais rápido entre os mais bonitos ao longo do tempo, e que os feios recebem salários menores que a média, enquanto os classificados como bonitos ganham mais.
Os três principais fatores que influenciam o “prêmio” dado aos mais bonitos são autoconfiança, percepção de competência e maior sociabilidade.
“A confiança associada à beleza cria a (falsa) crença que estes funcionários são mais competentes que os demais. Funcionários mais bonitos geralmente são mais comunicativos e sociáveis e esta interação impacta positivamente seus salários”, analisa Juliana.
Uma das surpresas do estudo foi a naturalidade com a qual o tema foi abordado pelas entrevistadas. “Eu imaginava que a relação entre beleza e carreira seria um certo tabu e não apareceria de forma tão explícita na trajetória profissional”, afirma.
Mulheres e carreira
No Brasil, em 1960, 17% das mulheres maiores de 10 anos trabalhavam fora, passando para 27% em 1980, um crescimento significativo em 20 anos. Segundo estudo mais recente, de Robbins, 48,5% das mulheres casadas faziam parte da força de trabalho no ano de 2000, percentual que era de apenas 39% em 1989, e no final da década de 90, em torno de 82% de todas as mulheres brasileiras com idade para trabalhar estavam empregadas.
As mulheres brasileiras destacaram satisfação pessoal, independência financeira e aumento da renda familiar como principais motivações para trabalhar fora de casa e citaram a importância do suporte dado pelos maridos para que elas o façam.
Entretanto, o fato de a mulher trabalhar fora não é novidade já há algumas décadas. O que mudou foram as decisões e escolhas da mulher em relação ao trabalho. “Ele passou a ter identificação, horizonte e tomada de decisão, ou seja, tem significado. A carreira é longa e contínua - também vista como reforço da própria identidade. As decisões são tomadas de forma independente ou em conjunto com o marido, pois o trabalho desta mulher não tem papel apenas secundário na casa”, segundo Juliana.
Embora os indicadores referentes à participação da mulher no mercado de trabalho mostrem tendências positivas, as conquistas não devem ser superestimadas. Estudos afirmam que ainda existe discriminação em relação à mulher, o que pode ser observado na hierarquia, remuneração, profissão e até indústria de atuação.
As mulheres geralmente ocupam posições subordinadas aos homens, recebem salários mais baixos, estão mais presentes em profissões ligadas às áreas como educação, assistência social e prestação de serviço, tidas mais “femininas”, e são minoria em indústrias “masculinas”, como siderurgia e automobilística.
As mulheres representam 97% dos assistentes sociais, 89% dos psicólogos e 77% dos professores, que declararam Imposto de Renda em 2000. “É importante notar que esta discriminação é discreta e não mais explícita como foi no passado”, ressalta a pesquisadora.
Executivas e maternidade
Por fim, conforme destaca Rocha-Coutinho (2000), embora essas barreiras impostas às mulheres sejam em parte decorrentes de estereótipos tradicionais de gênero, não se pode se limitar a eles, deixando de citar a dificuldade que as mulheres enfrentam para contrabalançar carreira e maternidade. Este cenário faz com que muitas delas não almejem posições de liderança, uma vez que elas não estão dispostas a abrir mão da família e bem-estar pessoal em prol de ascensão profissional.
No que diz respeito à família, dados indicam que, em geral, as mulheres estão engravidando pela primeira vez com mais idade do que há algumas décadas e os casais, optando por ter menos filhos
Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde Brasileiro, a proporção de nascimentos em mães com 40 anos ou mais nos últimos anos aumentou de 1,75%, em 1996, para 1,95%, em 2002 e 2,17% em 2007. Somente na cidade de São Paulo, no mesmo período, este índice passou de 1,77% para 2,26%, chegando a 2,76% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). Índices, portanto, similares aos de países desenvolvidos, como o Canadá, por exemplo, onde a taxa de gestantes com 40 anos ou mais aumentou de 0,6%, em 1982, para 2,6%, em 2002 (IDADE..., 2006).
Segundo dados do IBGE, a taxa de natalidade no Brasil urbano caiu de 38% em 1970 para 21,2% em 1999. A taxa de fecundidade também caiu drasticamente neste período, passando de 4,6 em 1970 para 2,2 em 1999 no urbano e para apenas 2,0 nos estado de São Paulo e Rio de Janeiro (IBGE, 2000).
Fonte: Canal Executivo
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