Por: Nilce Campos *
Li numa revista uma reportagem com dicas de postura para se vender melhor profissionalmente, conquistar a confiança do chefe, ser promovido e ter o salário aumentado. O mote, baseado numa pesquisa de cientistas norte-americanos, é que o mundo é dos “espertos”. Segundo a matéria, fazer de conta que está trabalhando muito ou que está sempre muito ocupado pode fazer diferença no marketing pessoal. O texto recomenda andar sempre depressa – até para ir ao banheiro, para dar a impressão de que o tempo é curto – e deixar relatórios e livros de pesquisa abertos em cima da mesa, mesmo que isso não seja necessário. Há também outra dica: utilizar o corpo como ferramenta, frequentando academias de ginástica em vez de cursos de especialização. Há ainda uma última recomendação: o profissional deve ser bajulador, já que “todo mundo gosta de ser bajulado mesmo”.
Quem gosta de ser enganado? Na minha concepção, quem orienta dessa maneira deve pensar que o empregador é facilmente enganado por aparências. Não posso crer que esses “espertinhos” gastem seu tempo criando armadilhas comportamentais para ludibriar. Aos profissionais que atendo no processo de outplacement – orientação pessoal e profissional para executivos que foram demitidos –, aconselho a ver sempre o lado positivo de um desligamento e a oportunidade de crescer com a mudança. Peço para serem gratos à empresa pelo benefício que receberam, que tenham uma postura positiva, que não falem mal dos locais onde já trabalharam, que façam somente o que gostariam que lhes fosse feito ou dito, que respeitem os subordinados, os pares e os superiores e que cuidem da saúde física e mental.
Nunca admiti este tipo de comportamento citado na reportagem: sempre achei falta de respeito. Transformar o mundo empresarial num teatro, onde o profissional necessita interpretar um papel que não é verdadeiro, tem seu preço. Quem “faz de conta” que trabalha vive sob tensão, pois precisa ser o que não é, e não conseguirá manter este comportamento por muito tempo sem adoecer. Vale o esforço para enganar um empregador? Quem faz isso tem a consciência tranquila? Não desconfia de todos ao redor? Comportamento pouco ortodoxo é coisa comum. O que me preocupa é uma revista ensinar como se passar por bom profissional.
* Nilce Campos, psicóloga e sócia da Apex Executive SearchFonte: http://www.apexexecutive.com.br
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