A incidência da diabete na população brasileira está próxima de 10%, número que cresce acompanhando a tendência dos hábitos de vida poucos saudáveis. As complicações deste mal, como a retinopatia diabética (cegueira), também estão em níveis elevados e não pela falta de diagnóstico, mas pela falta de controle da doença. Uma pesquisa inédita, conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz da Bahia, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), apontou que 75% das pessoas têm controle da glicemia inadequado.
A "Pesquisa Nacional Sobre Diabete: Grau de Controle Glicêmico e Complicações" avaliou 6.700 pessoas em 10 cidades brasileiras (São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Recife, Salvador e Fortaleza) e contou com o apoio do laboratório Pfizer. Participaram do levantamento pacientes entre 18 e 98 anos de 22 centros clínicos, especializados ou não no tratamento da diabete, sendo 34% homens e 66% mulheres. Os pesquisadores ainda dividiram, na tabulação dos números, os pacientes pelo tipo da doença: 15% eram do tipo 1 e 85% do tipo 2 (o de maior incidência).
"Trata-se de uma doença que tem proporção epidêmica. É difícil mas não é impossível controlar a diabete e o estudo mostra que nossa situação não é confortável", avalia Edson Duarte Moreira Jr., pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz na Bahia (Fiocruz) e um dos coordenadores do levantamento.
Os parâmetros para saber se os pacientes estavam ou não com a diabete controlada foi o nível de hemoglobina glicada (deve ser inferior a 7), que possibilita medir o controle glicêmico dos últimos três meses. Ela leva grande vantagem sobre a medição da glicemia em jejum que mostra apenas o cenário do momento. Além disso, o nível dessa hemoglobina está ligado ao grau de complicações.
"A falta de controle é um problema mundial. Ao diminuir a hemoglobina glicada, melhora o controle da doença, reduz risco de morte e outras complicações. A diabete é uma doença altamente custosa e isso está ligado ao controle", informa Marcos Antônio Tambascia, presidente da Sociedade Brasileira de Diabete (SBD) e chefe do serviço de endocrinologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para evitar resultados diferentes, que podem variar de acordo com o método utilizado pelo laboratório, todos os exames foram encaminhados para um laboratório em São Paulo.
Os números da pesquisa foram considerados "lastimáveis" pelo pesquisador da Fiocruz. "É uma receita certa de complicações e comprometimento do futuro do paciente", afirma. Ao verificar os dados separadamente pelo tipo de diabete, os números mostram que, entre pessoas com o tipo 1 da doença, o controle inadequado atinge 90%. Essas pessoas estão sujeitas a todas as complicações que o mal pode causar, como doença coronariana, cegueira, amputação de membros e insuficiência renal.
"Essas complicações não são triviais e tornam a situação do paciente ainda mais difícil. E todas elas podem ser prevenidas, pois estão ligadas ao controle da glicemia. Isso pode motivar os diabéticos a atingirem esse controle", relata Moreira Jr.
NOVIDADE - A demora na prescrição da insulina mostra-se como um complicador no controle da doença no País. "Mesmo seguindo o tratamento corretamente, há um grande contingente de pacientes com controle inadequado pelo adiamento do uso da insulina", diz Moreira Jr. Para Tambascia, da SBD, se por um lado os pacientes mostram certa resistência ao uso do medicamento - por ser aplicado via injeção - os médicos acabam acatando essa resistência e adiando a prescrição porque "insulinizar um paciente dá muita mão-de-obra, tem que se ensinar a injetar. O paciente já não quer porque acha que dói e isso acaba adiando o uso da insulina".
O incômodo causado pelas agulhas tem incentivado os pesquisadores a buscarem alternativas. A primeira delas, que acaba de ser lançada no Brasil, é a insulina inalável. Comercialmente chamada de Exubera, do laboratório Pfizer, trata-se da primeira insulina inalável do mundo. O produto já está disponível nos Estados Unidos e Europa e começa a ser vendido no País em maio. Para uma pessoa que precisa de 13 gramas de insulina diariamente (nesta modalidade não se vende a insulina por unidade e sim por grama), por exemplo, o tratamento custará, mensalmente, cerca de R$ 450. "O indivíduo aspira o pó e a insulina chega ao pulmão, de onde parte para a corrente sanguínea. É um mecanismo simples e o inalador não precisa de pilha ou bateria", explica João Fittipaldi, gerente médico da Pfizer.
Sem dúvida, trata-se de uma forma de melhorar a adesão dos pacientes dependentes de insulina, já que 76% dos pacientes expressam sentimentos negativos em relação às injeções. O produto é classificado dentro do grupo de insulina de ação rápida, ou seja, precisa ser inalado 10 minutos antes das refeições. Sua ação dura em torno de duas horas no organismo. O estudo utilizado para a aprovação dessa nova modalidade de insulina envolveu 25 países e 3.500 pacientes. Os resultados mostraram que 47% dos pacientes que usaram Exubera atingiram a meta e o controle glicêmico.
O produto pode gerar alguns efeitos colaterais leves como hipoglicemia (similar à insulina tradicional de ação rápida), tosse leve e pequenas alterações não progressivas da função pulmonar. A insulina inalável é contra indicada para fumantes e portadores de doenças pulmonares instáveis ou não controladas, incluindo asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). "A insulina inalável é uma evolução que vem permitir outra via de aplicação e que vai facilitar a vida dos pacientes. A qualidade de vida do paciente fica melhor e isso deve facilitar a insulinização", acredita Tambascia.
Fonte: Agência Estado
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