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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Doença mental é drama na rotina dos bancários.

Tonturas, irritações frequentes, pesadelos, palpitações, falta de ar e outros sintomas que parecem isolados, mas que podem tornar-se depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico e outras doenças mentais.

E tudo isso pode estar ligado ao trabalho do bancário. O Dia Mundial da Saúde Mental do Trabalhador é 10 de outubro e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo.

A categoria bancária é uma das que mais adoece no país e os transtornos mentais estão entre os mais frequentes motivos. Quando o funcionário não é a vítima, o colega ao lado pode ser, e a falta de apoio é um dos principais agravadores da situação.

Para a psicóloga Renata Paparelli, professora e supervisora de estágios de Saúde do Trabalhador do curso de Psicologia da PUC-SP, esse adoecimento é causado por conta do assédio organizacional.

"São práticas de gestão voltadas para a produtividade que abrem espaço para o assédio moral. É uma espécie de afrouxamento dos valores éticos da empresa e isso se materializa muito na questão das metas abusivas."

A profissional aponta que o bancário que adoece é rechaçado porque ele "é uma denúncia viva do que acontece dentro desse modelo organizacional".

Mais uma vítima

Entre esses milhões de vítimas, está um bancário do Banco do Brasil afastado - entre breves voltas e novos afastamentos - desde 2008. "Prestei concurso e este foi o meu primeiro emprego.

Dez anos depois, comecei a ter palpitações, procurei um cardiologista, mas o problema era psicológico: eu estava em depressão diante da pressão e da competitividade exacerbada que eu sofri."

E tal realidade vivida pelo jovem bancário de 34 anos, é o resultado do sentimento dos trabalhadores que responderam à pesquisa sobre saúde da categoria divulgada em 2011, que aponta: 65% dos trabalhadores das agências, 63% dos gerentes e 52% dos que trabalham nas grandes concentrações sentem-se excessivamente pressionados.

"O adoecimento é determinado por várias questões, inclusive o funcionamento da empresa. O que as instituições financeiras praticam é a criação de uma ilusão em que quem atinge meta é eficiente, que o mundo é feito de vencedores e essa vitória significa produtividade", alerta a secretária de Saúde do Sindicato, Marta Soares, lembrando que o Sindicato luta para alterar essa realidade todos os dias.

"Conquistas importantes ajudam a proteger o trabalhador, como o instrumento de combate ao assédio moral e o direito do afastado de receber adiantamento salarial enquanto não sai o benefício do INSS."

Metas, fusões e adoecimento

A psicóloga Renata Paparelli, que também coordena os Encontros de Saúde dos Bancários na sede do Sindicato, salienta que os trabalhadores adoecem, em sua maioria, por conta de processos de fusão entre bancos ou por conta de pressão por metas. "As fusões intensificam essa guerra de `todos contra todos’, individualizam os problemas e destacam a competitividade exacerbada", explica a psicóloga.

"No entanto, enquanto nas instituições privadas os bancários são obrigados a atingir metas cada vez maiores, nos bancos públicos eles são pressionados e ameaçados a perder comissões e cargos."

A culpa é dos bancos

"Quando adoeci, me senti culpado, me senti fraquejado." A fala do bancário do BB demonstra exatamente o sentimento dos trabalhadores adoecidos. "Até hoje tenho pesadelos com o gerente xingando e assediando a equipe. Alguns colegas de trabalho achavam que o problema era eu e não o banco". Renata Paparelli ressalta:

"Eles se sentem culpados. Eu não conheço nenhum trabalhador com algum transtorno ou sofrimento psíquico que não tenha sido excelente trabalhador. Trata-se de pessoas muito dedicadas, que acreditam na empresa. Quando adoece, por conta do modelo de gestão do banco, a decepção é muito grande.

Não se trata de fraqueza, de algo individual, mas de um trabalho penoso, produtor de sofrimento psíquico. Quando essa engrenagem, que é o trabalhador, adoece, é colocada de lado, como uma sucata. Toda a sua história no banco é descartada", completa a psicóloga, alertando que esta é uma prática totalmente equivocada das instituições financeiras.
Fonte: Revista Proteção

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