Não é de hoje que os textos de Administração namoram a auto-ajuda. Simpatia demais pode acabar fazendo mal.
Por: Fábio Zugman
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Fim de semana passado estive em três grandes livrarias. De um lado, “gurus” das finanças pessoais prometem riqueza fácil investindo com algum esquema fantástico. Do outro, autores com sorriso de Pollyanna* ensinam como montar sua “start-up” e ficar rico, feliz e sorridente com ela.
Não me leve a mal, caro leitor: um pouco de otimismo é fundamental. Bom humor é importante, e me considero um cara mais bem humorado que a média. No entanto, em algum momento, a coisa precisa ficar séria.
E por isso é preciso olhar com desgosto para a maioria dos livros de “finanças pessoais”, não pelo tema importantíssimo que eles se propõem a tratar, mas pelo fato de a maioria dos autores estar mais interessada em virar “guru” do que ajudar seus leitores. Aproveito para fazer um desafio a todo esse povo: que esses “gurus” das finanças divulguem abertamente os resultados dos próprios investimentos. Quem sabe parem de dizer que é fácil ficar rico.
Ter um projeto, aliás, não é a mesma coisa que ter uma start-up. Empreendedores não são só pessoas felizes e sorridentes que muitos livros pintam. Ser responsável por um negócio requer seriedade e disciplina, temas que ficam de fora de vários textos. É mais fácil falar sobre como tudo é legal e excitante, do que mostrar o trabalho duro e o silencioso desespero que muitos empreendedores enfrentam ao longo de suas carreiras. O mesmo vale para temas como inovação, “mídias sociais” e estratégia, onde todo mundo vai encontrar um “Oceano Azul” ou ser a próxima Apple.
E esses são só alguns exemplos. Não é de hoje que os textos de Administração namoram a auto-ajuda. O problema, a meu ver, é que essa onda de conselhos fáceis e sorrisos deixa para trás características importantíssimas do mundo real. Lembro de uma conversa que tive com um recém contratado de uma grande empresa de tecnologia, daquelas pintadas como o paraíso pela mídia. Ele me contou que muita gente fica boba ao saber que ele também tinha chefe e metas a cumprir. Entre em uma dessas empresas esperando a imagem pintada em certos livros e a decepção é certa.
Por que falar tudo isso? Me desculpem as noviças rebeldes, mas mau humor é fundamental. Um bom planejamento estratégico, uma boa gestão financeira e até uma boa ideia de negócios precisa de uma boa dose de descontentamento e mau humor. Estou falando daquilo que Mihaly Csikszentmihalyi chamou de “pessimismo ensolarado”: é preciso ser pessimista para ver imperfeições no mundo, para ficar descontente com as coisas a ponto de querer fazer algo a respeito, e otimismo suficiente para imaginar que você pode mudar as coisas.
É preciso, também, saber que tudo que é importante exige algo em troca. Em algum momento, as coisas ficarão difíceis, as ideias darão errado e o dinheiro vai ficar escasso. Você vai duvidar de você mesmo, de suas escolhas e do caminho que está seguindo. Se fosse fácil, todo mundo teria um sucesso estrondoso e seria milionário. Falando nisso, ter um sucesso estrondoso e se tornar milionário não te tornam necessariamente mais feliz.
Então, por que fazer algo diferente? Por que criar uma empresa? Por que economizar dinheiro, aprender uma nova habilidade ou desbravar um novo campo?
Porque muitos dos nossos melhores momentos na vida também são os piores. Olhando para trás, são os momentos de provação, de dúvidas, momentos em que superamos algo que tornam as pessoas mais orgulhosas.
Ficar em casa vendo televisão não vai fazer você olhar satisfeito para seu passado daqui a vinte anos. Coisas fáceis são passageiras. Tentar algo novo, buscar um objetivo que exija sacrifícios, assumir um risco que valha a pena. Essas sim são coisas que valem ser lembradas. No mundo real, um pouco de mau humor faz parte da vida, e por isso ele é essencial.
*Personagem de série literária que vive sorrindo.
Fonte: administradores.com.br
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