A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) esteve no Horto Aimorés, em Bauru, ontem à tarde para avaliar os danos ambientais causados pelo vazamento do combustível após o descarrilamento do trem. Após uma análise preliminar, foi apontado que realmente houve danos ambientais na região, porém, a proporção parece ter sido menor que o imaginado logo após o acidente.
O agente da companhia ambiental Francisco de Lima, que estava de plantão no momento do acidente, percorreu o trecho do córrego por onde o combustível escoou até explodir. Pelo que viu, disse que aparentemente grande parte do produto derramado acabou sendo consumido pela explosão.
Em relação à contaminação da água do córrego, o agente da Cetesb explica que será preciso verificar de maneira mais complexa os danos causados, entretanto, ele afirma que não encontrou qualquer traço de mortandade de peixes. “O vagão nem foi transportado ainda. Por uma questão de segurança, apenas acompanhei os trabalhos dos bombeiros. Com isso, pude fazer análise inicial. Não vi peixes mortos. Muito do produto também acabou sendo diluído na água pelas chuvas”.
Questionado sobre os danos que o vazamento possa ter causado propriamente ao solo, Lima explica que, aparentemente, esse é um fator menos preocupante. “Em casos assim, o combustível fica sobre a superfície do solo. É feita a remoção dessa parte de cima. Para penetrar em lençol freático, demora mais tempo. Isso é algo que é menos preocupante agora”, aponta.
Ainda ontem, uma equipe da Cetesb de São Paulo veio até o local do acidente para acompanhar a remoção da locomotiva e analisar o restante dos danos causados. “Essa equipe fará uma análise melhor do que eu pude constatar de forma preliminar”.
A proporção do vazamento e dos prejuízos pode resultar em punições para a empresa América Latina Logística (ALL), responsável pela manutenção da malha ferroviária. “A autuação sempre é feita para acompanharmos o processo. A empresa pode ser punida com multas graves ou gravíssimas ou apenas receber uma advertência. O que vai apontar isso são os danos que forem encontrados após a análise oficial e também no modo como a empresa está conduzindo o processo de descontaminação”, conclui o agente da Cetesb Francisco de Lima.
Possíveis causas da explosão
Embora técnicos e engenheiros da América Latina Logística S/A (ALL), Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil ainda não tenham conclusões sobre o que levou o combustível explodir, no local dos fatos, populares e profissionais buscavam a melhor explicação.
Para o tenente da Polícia Militar André Saito Arashiro, um dos primeiros a chegar no lugar, uma fagulha provocada pela ignição de um dos carros que estavam na estrada pode ter sido a causa, já que a região estava encharcada com o combustível. O mesmo diziam os populares e outros profissionais. “Porém, certeza mesmo só teremos depois da perícia detalhada”, explica o tenente.
Já para o consultor automobilístico Marcos Camerini, dificilmente esta foi a razão da explosão. “Acredito que o carro precisa estar banhado com gasolina para isso acontecer. Mas algumas hipóteses podem ser levantadas. Uma delas é a possibilidade de um dos veículos ter se chocado em algum lugar ou mesmo derrapado e provocado uma faísca. Isso também pode acontecer se o combustível cair sobre o escapamento quente”, comenta.
Feridos foram levados à ala de queimados do HE
As quatro pessoas que sofreram queimaduras na explosão do combustível que vazou do trem foram socorridas pela Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Samu. No primeiro momento, as vítimas foram encaminhadas ao Pronto-Socorro Central e depois para a ala de tratamento de queimados do Hospital Estadual (HE), onde permaneciam até a noite de ontem.
Uma delas, o lavrador Cláudio de Souza Melo, estava em estado grave. Já Imer Arantes, Israel Silva e Ana Roberta Venâncio permaneciam sob cuidados médicos, porém, com queimaduras mais leves.
O paciente em estado grave dirigia uma Belina no momento da explosão. Outros quatro carros, um Fiesta, um Corcel Del Rei, um Corsa e um Monza também pegaram fogo.
Segundo a assessoria de imprensa da América Latina Logística S/A (ALL), responsável pela malha ferroviária de Bauru, a empresa dará toda a assistência necessária para as vítimas e suas famílias.
Córrego é usado para lazer
Álvaro de Brito é coordenador da Defesa Civil de Bauru e avalia que a região do Horto Aimorés, onde combustível vazou de duas locomotivas e um vagão devido à queda de um aterro, possui pouco mais de mil habitantes, incluindo os acampados. “São sítios e construções muitas vezes irregulares, inclusive a pequena estrada onde ocorreu a explosão, não é oficial. O pessoal abre poços perto do manancial que recebeu o combustível e por isso a importância de uma avaliação do lençol freático para averiguar possíveis contaminações”.
Preocupada com a saúde do córrego afetado, a moradora Cláudia Tavares, coordenadora da saúde e do social do assentamento Aimorés, diz que ele é fundamental para quem mora em suas proximidades. “É fácil ver o óleo que ficou sobre as folhas e encontrar peixes mortos. Uma coisa assim não pode acontecer porque as crianças brincam na água, pescamos...”
Ainda assustados com a explosão e com o risco de novos acidentes, os moradores estavam aflitos por notícias dos parentes e amigos que sofreram queimaduras. “É complicado. Eles foram socorridos, mas como estão? Ninguém diz”, preocupa-se Cláudia.
Para Roque, acidente poderia ser evitado
Apesar das fortes chuvas terem sido apontadas como as principais causadoras do acidente com o trem, a América Latina Logística (ALL), empresa responsável pela manutenção da malha ferroviária em Bauru e região, recebeu fortes críticas do Sindicato dos Ferroviários.
Segundo o vereador Roque Ferreira, que é coordenador de Relações Institucionais de Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul, foi a falta de manutenção das linhas que propiciou o descarrilamento do trem.
“Estamos falando disso há tempos. Sempre batemos na mesma tecla. As vias permanentes devem receber manutenção preventiva e permanente. E, como isso não ocorre na prática, acabam acontecendo acidentes como esse”, denuncia.
Para ele, quando chove, é necessário haver rondas periódicas nos locais de risco para verificar os estragos causados e alertar os maquinistas. O diretor de Operações da ALL, Alexandre Zanelato, afirmou que uma ronda foi realizada por volta das 19h na noite anterior do acidente e constatou normalidade no exato ponto do ocorrido.
Entretanto, Roque Ferreira aponta que a chuva durou a noite toda e a ronda realizada nesse horário não seria suficiente para identificar novos problemas causados. “Todos sabem os pontos críticos nos quais podem aparecer problemas quando chove muito. O certo seria ter feito uma nova checagem para a prevenção”.
Outro item criticado por ele é a condução individual dos vagões. Para Roque, “o certo seria ter o maquinista e um auxiliar em toda viagem”. Ele explica que, em casos assim, a dupla é útil uma vez que o maquinista tem autonomia para parar o veículo e o auxiliar pode descer e fazer a verificação das condições da linha.
“As empresas acham que isso não é necessário e a maioria não adota o trabalho em duplas. Essa ausência aliada às condições da malha e à falta de manutenção certamente foram responsáveis pelo que ocorreu. O acidente poderia ter sido evitado”, conclui.
Fonte: JCNet
Um comentário:
Ainda com belos posts esse blog, parabéns e que continue assim :) estamos em períodicas discussões sobre blogs no IESB, e vejo que que esse canal vai alcançar um grande patamar o quanto antes. Espero que continue assim, evoluindo.
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