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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Formando os próprios talentos: 9 dicas para desenvolver empreendedores

Mesmo que você não seja professor, mas líder de equipe, estas dicas também podem ser adaptadas para criar condições de aprendizado para sua equipe.


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A experiência da sala de aula é uma das atividades que mais valorizo no meio acadêmico. O educador goza de uma oportunidade inigualável de compreender como as pessoas evoluem e crescem. Podemos aprender bastante também. Na verdade, às vezes eu acho que mais aprendo do que ensino. Compreender a natureza das pessoas, suas motivações intrínsecas, o processo da descoberta e os desafios constantes que se apresentam na relação inter-pessoal são altamente enriquecedoras.

Nos primeiros anos em sala de aula, sempre me preocupei com um processo de transmissão eficaz do conhecimento na área da Administração Geral. Ensinar fundamentos da administração ou as teorias gerais da administração era, para mim, dotar o aluno do conhecimento necessário para ele compreender o papel do administrador nas empresas modernas. Ao assumir a cadeira de empreendedorismo, percebi a diferença entre formar administradores e formar empreendedores. Cada vez que tenho contato com as ideias e atitudes de grandes empreendedores, me convenço mais ainda sobre o diferencial que devemos proporcionar no meio acadêmico para o desenvolvimento de novos empreendedores.

O que venho constatando nestes últimos tempos é que os desafios para se formar administradores se tornaram muito semelhantes aos de se formar empreendedores. Ao vermos que, na prática, os dois perfis estão se aproximando muito na condução das empresas e na economia, percebemos que, mais do que pensar nos conteúdos disciplinares, as escolas devem pensar nas atitudes, comportamentos e competências que estes alunos precisam desenvolver para enfrentar os desafios propostos pelas empresas. 

A sala de aula não deixa de ser uma organização. É um laboratório onde se pode simular alguns dos ambientes corporativos, é um micro-cosmo onde se pode testar e experimentar técnicas que desenvolvem algumas habilidades específicas. Com o objetivo de contribuir com esta abordagem, quero aproveitar este espaço para compartilhar um pouco da experiência que adquiri ao longo dos últimos anos neste sentido. Mesmo que você não seja professor, mas líder de equipe, estas dicas também podem ser adaptadas para criar condições de aprendizado para sua equipe, afinal de contas, nem sempre contamos com as melhores pessoas, o que significa que precisamos aprender a formar nossos próprios talentos:

1- Aprender a pensar. Primeiro explique. Quando as coisas parecerem ter ficado claras, crie uma situação ambígua, explique e depois desminta com outra versão de outro autor. Deixe as coisas um pouco confusas e faça questionamentos sobre quem está certo. Peça opiniões dos alunos e levante alternativas para explicar a ambigüidade. No final da aula, esclareça tudo, no máximo na aula seguinte. O significado do aprendizado é mais perene quando ele reflete sobre o assunto de forma provocativa.

2- Saber questionar. Antes de começar uma aula teórica, avise-os que, ao final, sorteará 5 alunos para fazerem perguntas sobre a aula dada. Por isso, até o final da aula, cada aluno terá que já ter formulado alguma pergunta. Dê preferência às perguntas que questionam o que foi dito. Para o professor, o desafio é maior, pois ele precisa saber que hoje em dia ele não detém o poder do conhecimento sozinho e pode até aprender com os alunos. O professor pode e deve, em alguns momentos, se desvestir da aura de sabe-tudo, desde que tenha construído um clima de confiança e respeito que lhe dê segurança para dar esta liberdade.

3- Trabalhar em grupo. Para ensinar a trabalhar em grupo, não basta dar trabalhos em grupo. É preciso ensiná-los a fazer isso. Desde a distribuição de tarefas, a condução de uma reunião de trabalho, resolução de conflitos, administração do tempo, entre outras técnicas. Normalmente eu gasto uma aula inteira para dar estas dicas antes de passar o primeiro trabalho e os resultados são surpreendentemente melhores.

4- Processos de avaliação. Não avalie apenas o conhecimento. Eu já tive alunos que foram mal na prova e acabei dando nota por sua capacidade de argüição que me convenceram que ele mereceria passar. Professores que são inflexíveis neste quesito acabam pecando por avaliar apenas um aspecto do aluno que é a absorção do conhecimento. Eu acredito que o empreendedor não precisa apenas conhecer, mas deve provar que, de uma forma ou de outra vai conseguir atingir os objetivos e superar os desafios. Todos os meus alunos sabem que sou como uma águia no dia da prova. Não deixo escapar nada. Mas mesmo assim, incentivo eles a me desafiarem a colar. O risco de colar na minha aula é altíssimo porque o flagrante dá uma nota zero. Mas acabo premiando os que encararam o risco, me enfrentaram e conseguiram colar sem eu perceber.

5- Formas de expressão. Nem todos os alunos são hábeis na comunicação escrita e por isso vão mal nas provas. Existem alunos que preferem uma chamada oral do que uma prova tradicional. Alguns alunos adoram seminários porque possuem uma fluência natural em público, outros vão mais além e se entusiasmam cada vez que há um trabalho em grupo que explora a dramatização. Comunicação oral, escrita ou corporal. Dê condições para que o aluno use o melhor meio para ele expressar sua compreensão do aprendizado.

6- Construindo o conhecimento. Em cursos noturnos é comum que uma boa parcela da classe já esteja trabalhando. Muitas das idéias e conceitos trabalhados em classe são aplicados ou aplicáveis nas empresas onde eles trabalham. O significado do conhecimento se dá quando o aluno vê aplicabilidade no que lhe é passado. Para estes casos é conveniente que o professor faça perguntas sobre a empresa dele, crie condições para que o próprio aluno peça exemplos, sugira abordagens ‘e se...’. Discutir casos reais em empresas próximas da realidade do aluno aumenta a sua afinidade com o tema, instigando a curiosidade e facilitando a absorção.

7- Enxergar diferentes pontos de vista. Pegue um tema como por exemplo, o aborto. Identifique na sala que é favorável ao aborto e quem é contra. Divida a classe de acordo com estas opiniões e coloque cada parte em um lado da classe de frente para a outra. Peça então que eles debatam entre si esta questão com o objetivo de convencer o outro time a aceitar sua visão. O detalhe é que, antes de começar, você muda as regras. O time que defende o aborto deve convencer o outro time que o aborto não é bom. Da mesma forma, o time que não é favorável deve defender o valor contrário. Este exercício, mostra que existem diversos pontos de vista sobre a mesma realidade. Nossa capacidade de relacionamento e criatividade cresce na medida em que desenvolvemos a habilidade de se colocar no lugar do outro e entender a situação sobre o seu ponto de vista.

8- Valorize as iniciativas. Quando você der um trabalho deixe bem claro que um dos critérios que você vai usar será a capacidade do grupo de te surpreender. Isso vai lhes dar a liberdade de usar a criatividade para buscar formas inusitadas para desenvolver o trabalho. Já tive grupos que escreveram uma música para apresentar o trabalho. Outro grupo fez uma extensa, rica e diversificada pesquisa bibliográfica, outro grupo trouxe especialistas no assunto para dar uma palestra. Teve um grupo que chegou a decorar toda a sala de acordo com tema que ia apresentar. Esta é uma liberdade que sempre vai dar margem para o risco de um ou mais grupos se enveredar por caminhos criativos, mas sem conteúdo, mas não se preocupe, é o preço que se paga para estimular o risco e a inventividade.

9- Minimize a importância da nota. O maestro Benjamin Zandler me deu esta idéia. No começo das aulas diga a todos: ‘Estão todos aprovados. A nota final de todos é 7. Ninguém vai ser reprovado por faltas. A partir de agora, ninguém mais precisa vir à aula. Eu não quero dar aulas para quem está interessado em notas e faltas apenas. Quero que venham apenas os que querem aprender algo e ser alguém na vida’ O seu sucesso agora será medido pelo número de alunos que consegue manter nas aulas. O melhor é experimentar primeiro em uma turma de pós graduação, a não ser que você acredite que os alunos da graduação já possuem maturidade suficiente para esta proposta. O número de alunos nas minhas aulas diminui um pouco, mas eu sei que quem está lá está disposto a aprender de verdade e as aulas são muito bem aproveitadas. O meu desafio obviamente é muito maior, mas é o tipo de desafio que gosto de assumir.

Estas são apenas algumas das coisas que costumo fazer como professor no ensino superior, mas não é só isso. Eu gosto de experimentar coisas novas e algumas coisas acabam não dando certo, mas se a sala de aula é uma simulação para o aluno, também o é para o professor.


Eu escrevi aqui uma vez que empreendedores só podem ser liderados por empreendedores, pois só eles compreendem a cabeça e o espírito empreendedor a ponto de explorá-los da melhor forma possível. Agora eu digo que empreendedores só podem ser despertados por empreendedores, pois só eles podem ajudá-los a desenvolver o potencial que todos possuem em sua essência natural. É isso que eu pretendo fazer em sala de aula. Eu sei que todos os meus alunos têm esta sementinha. Se eu consigo despertar mesmo que seja apenas alguns deles em cada turma, já fico contente por estar concretizando minha missão.
Fonte: administradores.com.br

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